domingo, 6 de março de 2011

A HISTÓRIA DAS ASSEMBLÉIA DE DEUS.





Afirmou  Bismark, certa vez, que o importante não é escrever a História; é indispensável fazê-la. Não posso concordar de todo com o chanceler alemão. Embora tivesse ele suas razões, não haveria de ignorar: se hoje sabemos que um poderoso estadista fez história foi porque algum historiador pôs-se a registrar-lhe as façanhas. Sem o peregrino lavor da historiografia, nem memória teríamos deste ou de qualquer outro potentado.
Mercê de Deus, possuímos não somente memória, mas principalmente heróis. Por isso houvemos por bem relançar o maior clássico das letras pentecostais de nosso país. A História das Assembléias de Deus no Brasil não é propriamente um relato do que fizeram reis, príncipes ou chanceleres. Todos os seus personagens, porém, são nobres: sacrificaram-se a fim de que o Reino de Deus fosse implantado de norte a sul de nosso país.

EMÍLIO CONDE  SOUBE  COMO RESGATAR NOSSAS MEMÓRIAS

Num trabalho onde o jornalista fez-se historiador, o apóstolo da imprensa evangélica do Brasil entrou a pesquisar nossas raízes. De entrevista em entrevista, reconstituiu os passos de Daniel Berg e Gunnar Vingren. Foi buscar as fontes primárias; falou com quem fez história; manuseou atas, diplomas e diários. Em seguida, esmerou-se o historiógrafo no mister do historiador.
Com uma linguagem simples, posto que emotiva e bela, Emílio Conde descreve como o grão de mostarda germinou, enflorou-se e pôs-se a outonar almas, igrejas, searas e missões. O que parecia uma semente destinada a ser pisada pelos homens, roubada pelas aves de rapina e pelos espinhos sufocada, deitou raízes frondando-se como o maior avivamento desde John Wesley e George Whitefield.
Uma obra como esta não pode cair no esquecimento. As novas gerações de pentecostais precisam saber como a mensagem do Evangelho integral de Nosso Senhor Jesus Cristo chegou à nossa terra. Se de fato ansiámos por avivamentos e refrigérios, urge espelharmo-nos em quem fez avivamentos e experimentou refrigérios.Voltemos, pois, às Sagradas Escrituras como a nossa única regra de fé e prática. Lembremo-nos dos movimentos genuinamente bíblicos e cristocêntricos entre os quais acha-se a Obra Pentecostal.
Tantas vezes tachado de herético, o pentecostalismo demonstra estar revivendo uma promessa genuinamente bíblica. Nenhum teólogo de bom senso haverá de contestá-lo; sua autenticidade doutrinária e histórica é atestada pelos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Além disso, a prática aí está para comprovar, a veracidade do que vimos pregando desde os pais-fundadores: Jesus Cristo salva, batiza no Espírito Santo, cura as enfermidades, opera maravilhas e em breve haverá de buscar os santos.
Esta é a história de nossa igreja. Não é uma história de reis e imperadores; é o relato de homens e mulheres que se deram à Obra de Deus e ao Deus da Obra. Enfim, esta é a história de como o Brasil foi transformado na maior nação pentecostal do mundo. E a CPAD, como a editora das Assembléias de Deus, sente-se honrada em resgatar um grande clássico de nossas letras.
Na introdução desta obra, o leitor encontrará um relato de como o Evangelho de Cristo foi, pouco a pouco, entranhando-se em nossas terras. É um resumo histórico que, iniciando-se com a descoberta do Brasil, culmina com a instauração do pentecostalismo em nosso país nos alvores do século XX. A obra de Emílio Conde, propriamente dita, vai da chegada de Daniel Berg e Gunnar Vingren até a década de 1960.
Embora não seja completa, em virtude da extensão e da complexidade de nossa igreja, é uma obra indispensável a quantos desejam inteirar-se do que o Senhor realizou nos primórdios do pentecostalismo em nosso país. Foi impossível a Emílio Conde registrar os nomes de todos os que se esforçaram na expansão do Reino de Deus através da Obra Pentecostal.As omissões não puderam ser evitadas. Todavia, os nomes de todos os que se deram a esta obra acham-se registrados no Livro da Vida. E nas Bodas do Cordeiro, ha­veremos de receber nossos galardões.
Que este livro inspire as novas gerações a levarem o Evangelho de Cristo até os confins da terra!

1911 — 2001
No ano do nonagésimo aniversário de fundação das
Assembléias de Deus no Brasil




Introdução




A SUGESTÃO DE PEROVAZ DE CAMINHA

Quando da descoberta do Brasil, o escrivão da armada portuguesa, Pero Vaz de Caminha, enviou uma carta a el-rei, narrando-lhe as venturas do novo achado. Parecendo não se entusiasmar com as estranhezas das possessões americanas, Caminha disse a Dom Manuel, o Venturoso, ser esta a única coisa que se poderia fazer neste recanto de mundo: dedicar-se à salvação dos gentios. Referia-se aos índios que os foram recepcionar naquele já distante 22 de abril de 1500.
Mais adiante, após demonstrar o seu espanto pelo primitivismo da gente brasílica, que "nem sinal de cortesia fizeram, nem de [querer] falar ao capitão;nem a ninguém", volta a tocar na conversão dos índios: "Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não entendem crença alguma, segundo as aparências. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixando logo de vir clérigo para os batizar;
porque já então terão mais conhecimento de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram".



A SUGESTÃO QUE NÃO FOI DEVIDAMENTE CONSIDERADA

A história mostra que a sugestão de Caminha não foi devidamente considerada. Com as investidas dos corsários ingleses e franceses, conscientizou-se a coroa lusíada ser o Brasil uma fonte de inesgotáveis riquezas. Por que se preocupar com as almas dos gentios? Darão elas dividendos ao trono? Cristóvão Colombo, aliás, apesar do caráter religioso de suas expedições, já teria afirmado: "A melhor coisa do mundo é o ouro; é capaz de enviar almas aos céus". O que esta afirmação vem demonstrar? Que a principal motivação dos empreendimentos marítimos não era a expansão do Reino de Deus, mas a das possessões de Lisboa e Madrid. Por isto muito turbou-se Portugal com as incursões dos corsários às nossas costas. Para rechaçá-los e explorar economicamente a terra, ensaia alguns passos para ocupar as vastidões do Novo Mundo.
Em 1530 é encetada a primeira expedição colonizadora.Tendo à frente Martim Afonso de Souza, a expedição daria início ao povoamento efetivo das terras agora tão cobiçadas. Acompanhando Dom Martim, vem muita gente interessada no progresso daquele chão incipiente, rude e desconhecido. Passados dois anos, o rei Dom João III endereça-lhe uma carta, participando-lhe de sua intenção em dividir o Brasil em capitanias hereditárias. Pelas novas disposições, caber-lhe-ia São Vicente.
Corajoso e empreendedor, o nobre lusitano faz a capitania prosperar. Monta o primeiro engenho de açúcar no Brasil. Dá expressão aos povoados, e alento aos desbravadores que se dirigiam ao planalto de Piratininga. Ele demonstra ser a nova colônia uma terra viável e mais que promissora. Haja vista ter sido a sua capitania, juntamente com a de Pernambuco, a mais desenvolvida e produtiva.
Quanto à salvação da alma do gentio, só seria tratada 23 anos depois. Afinal, para as potências da época, a fé nada mais era que um pretexto para expandir o comércio.
A CHEGADA DOS JESUÍTAS

A catequização dos índios brasileiros foi iniciada era 1553, no tempo do governador geral Mem de Sá. Tendo à frente o padre Manoel da Nóbrega, pretendiam os jesuítas duas coisas: converter o gentio e instruir os colonos.Tal pretensão, porém, não deu resultado. No trato com gentes de cultura e índole tão diversas, a Companhia de Jesus viu seu sistema educacional desnudar-se amorfo e confuso. Nem os índios eram convertidos, nem os colonos, educados.
A partir de então, os jesuítas passaram a mudar de tática. Criaram os colégios para se encarregarem da educação dos colonos, e as reduções para induzir o selvagem a obediência à fé cristã. Mas, como mais adiante veremos, o processo de catequese jesuítico não surtiria os resultados esperados, pois não era objetivo dos discípulos de Ignácio de Loiola fazer cristãos; e, sim: tornar mais longos e eficazes os braços da Santa Sé.
Naquele tempo, havia em nosso território seis milhões de índios. Embora não seja fácil identificar as várias nações em que se subdividiam, conforme o demonstraria o antropólogo Arthur Ramos, pode-se ao menos tentar uma classificação geral. Eis os grupos básicos da gente índia:Tupis, Gês, Caraíbas,
Nu-Aruak. Destas etnias, a que mais sobressaiu foi a Tupi. Espraiando-se ao longo de nosso litoral, muito sofreram os tupis em contato com o colonizador lusitano.
Até 1580, os jesuítas eram os únicos a cuidar da educação em nossa terra. Desde então, seguidores de outras ordens começaram a vir para cã dar a sua contribuição ao acabrunhante sistema educacional luso-brasileiro.



A TRISTE SORTE DO GENTIO EM TERRAS BRASÍLICAS

Não se sabe ao certo como os índios chegaram às terras do Brasil. Supõe-se terem eles, após a confusão da Torre de Babel, deixado a planície de Sinear e avançado em direção ao território atual da Rússia. De lá, rumaram ao Estreito de Behring, onde, aproveitando-se de um congelamento das águas que separam os continentes Asiático e Americano, passaram para o Novo Mundo. E, assim, após sucessivas e cansativas escalas, foram fixando-se desde o Alaska até a Argentina.
Pejos traços físicos, parecem fazer parte da grande família mongolóide. Todavia, quando lhes examinamos as várias línguas, fi­camos desconcertados: em nada lembram os idiomas indo-europeus, semíticos ou camíticos. Somente a confusão de Babel, e a firme decisão do Senhor de espalhar os filhos todos de Adão pela face da terra, podem explicar a origem de gentes tão estranhas e exóticas quanto nossos índios.
Infelizmente, tornaram-se alvos fáceis da ganância do colono português que, inescrupulosamente, buscou reduzi-los à servidão. Todavia, isto não foi possível porque, acostumados à vida ao ar livre e em permanente contato com a natureza, cedo fugiam de seus amos, e embrenhavam-se nas matas. Foi aí que se pensou na possibilidade de se transportar para cá o negro africano. A estas alturas, contudo, o destino das nações índias já estava selado.
De um lado, os jesuítas com as reduções; de outro, os colonos, tentando escravizá-los. E o que dizer das investidas das bandeiras e entradas?Todos estes ataques foram dizimando os silvícolas.Dos seis milhões de índios que havia no Brasil, quando do descobrimento, restam-nos hoje menos de duzentas mil almas.
Todavia, não é o nosso objetivo, neste livro, tratar das desventuras dos primitivos habitantes do país. O que intentamos mostrar é como desenvolveu-se a vida religiosa aqui e,em seguida, provar que, de todo esse sincretismo, ficou ao nosso povo uma triste herança espiritual: os cultos afro-brasileiros.
Antes, porém, de tratarmos do assunto proposto, há uma pergunta que não haverá de se calar jamais: o que fizeram os reformadores protestantes para evangelizar o Brasil? Sim, pois, na época do desco­brimento, o avivamento iniciado por Lutero e Calvino estava no auge. Que esforços envidaram para arrancar as tribos brasileiras e os colo­nos lusitanos daquelas densas trevas espirituais?



O DESCASO DOS REFORMADORES

Deflagrada por Martinho Lutero, a Reforma Protestante repre­sentou um grande avanço para o mundo. A partir das Noventa e
Cinco Teses fixadas nas portas da Igreja de Wittemberg, na Alema­nha, em 31 de outubro de 1517, a história das nações, principalmente européias, nunca mais seria a mesma. Posicionando-se contra, ou a favor, nenhum povo pode ignorar os efeitos daquele movimento que arrancou os filhos de Adão da Idade Média. De repente, viram-se mi­lhões de almas livres do aguilhão.da Santa Sé. Já era possível aspirar ao ar da liberdade.
No que tange à Obra Missionária, porém, a Reforma Protestante deixou muito a desejar. Embora apregoassem um retorno imediato às Escrituras, os reformadores não assimilaram a urgência da Grande Comissão. Nos anos subseqüentes, começaram a enredar-se em brigas intéstinas e discussões tolas acerca de vários pontos doutrinais. Enquanto isto, ia a Contra-Reforma ganhando terreno nas mais dife­rentes partes do mundo, notadamente nos continentes descobertos pelos espanhóis e portugueses.
O que alegavam os reformadores para não cumprir os requisitos da Grande Comissão?
Contaminado por uma síndrome escatológica, Martinho Lutero afirmava que, como a vinda de Cristo estava próxima, nada mais se poderia fazer em prol daqueles que, até aquela data, ainda não havi­am sido alcançados pelo Evangelho. Por seu turno, João Calvino, en­venenado pela doutrina da predestinação, defendia já estarem seguros os que haviam sido predestinados à vida eterna. Quer fossem evangelizados, quer não, a salvação destes já estava garantida. Quanto aos outros, por que perder tempo falando-lhes de Jesus? Infelizmente, observamos estes mesmos entraves atrapalharem a Obra de Deus ainda hoje. É chegado o momento, todavia, de nos desvençilharmos de tais empecilhos, e cumprir incondicionalmente os itens da Grande Comissão. Os que olham as nuvens das últimas coisas jamais espalharão a Boa Semente das primeiras.
Em conseqüência de ambos os posicionamentos, as missões evan­gélicas muito sofreram. Aproveitando-se desta visão distorcida dos reformadores, a Igreja Católica não perdeu tempo. Espalhou seus missionários pelos mais distantes e exóticos recantos do mundo.Haja vista os jesuítas que se embrenharam pelo Novo Mundo, fazendo contatos com os indígenas, abrindo reduções e estabelecendo os alicerces educacionais das nações latino-americanas.
Os protestantes foram tão pouco venturosos na evangelização de nossa terra naqueles idos, que mesmo as poucas iniciativas, re­dundaram em fracasso.



AS PRIMEIRAS INICIATIVAS PARA SE IMPLANTAR A FÉ EVANGÉLICA NO BRASIL

A fé evangélica, no Brasil, só começou a prosperar nos últimos dois séculos. Desde o descobrimento, conforme veremos a seguir, foram empreendidas diversas empreitadas para se implantar aqui os princípios da Reforma Protestante .Todas as empreitadas, porém, fracassaram: vinham escudadas em interesses que colidiam com os negócios supremos e inadiáveis do Reino de Deus. Quando isto ocorre, as missões vêem-se cobertas de frustrações e opróbrios; o evangelismo morre em seu nascedouro; e, entre os gentios, é blasfemado o santo nome do Senhor.
Apesar dos malogros franceses e das decepções holandesas, os reclamos da Grande Comissão não foram sufocados. Aquilo que pa­recia impossível, quando do descobrimento, não está muito longe de ser alcançado: um Brasil evangélico.




OS FRANCESES
Fugindo às perseguições religiosas que se espalhavam por toda a França, Nicolau Durand de Villegaignon demonstrou vivo interesse em se transferir às possessões portuguesas no Novo Mundo, e, aqui, fundar a França Antártica. Apoiado por Coligny,veio à frente de uma considerável leva de protestantes, conhecidos na Europa como huguenotes. Consigo, vieram também várias famílias católicas e al­guns condenados. Vê-se, pois, que o objetivo desta cruzada não era primordialmente abrir uma frente missionária e,sim, estabelecer uma colônia francesa.
Villegaignon chegou à Guanabara em 1555, instalando-se na ilha de Serigipe que, mais tarde, receberia o seu nome. Dois anos depois, ancoravam em nossas águas os navios da segunda expedição, agora •
apoiada, não somente por Coligny, como pelo próprio Calvino. Com a chegada desta expedição, realiza-se o primeiro culto evangélico em caráter oficial no Brasil. A data jamais seria esquecida: 10 de março de 1557.
Tivessem se aproveitado do enfraquecimento das instituições portuguesas, os franceses teriam se instalado definitivamente em nosso território. Haveriam de alterar a conformação política e geo­gráfica da possessão lusitana, dando origem a novos estados inde­pendentes. Eis que entre eles, todavia, levanta-se alguém pronto a quebrar a harmonia até então reinante entre as várias facções da incipiente colônia: o próprio Villegaignon. Conhecido como o"Caim das Américas", apostatou da fé e pôs-se a perseguir os huguenotes. Foi a partir desta insanidade que o projeto de se ter uma França nos trópicos começou a gorar, pois os calvinistas representavam dois terços dos habitantes do povoado, além de se constituírem no escol intelectual e moral da colônia.
Expulsos da ilha, viram-se os huguenotes obrigados a se instalarem num lugar conhecido por eles como Briqueterie, até que um navio aparecesse e os levasse à França. Enquanto isto, fizeram contato com os índios que os supriam de víveres.A angustiante espera durou até quatro de janeiro de 1558, quando aportou à Guanabara o navio Jacques, do Havre. Villegaignon, entretanto, não teve muita ventura em seus empreendimentos, pois a coroa portuguesa, apesar de debilitada, reuniu energias suficientes para desalojar os invasores da riquíssima colônia. Em 1567, o governador geral, Mem de Sá, restaura a soberania lusitana sobre todos os territórios dantes ocupados por
Villegaignon. Nesta cruzada, contou com a inestimável ajuda de seu sobrinho, Estácio de Sá. .


OS HOLANDESES


Mais felizes que os franceses, os flamengos deixaram a Holanda, que ascendia como uma das maiores potências do mundo, dispostos a fundar uma grande colônia em terras brasileiras. Sob a sábia e segura orientação do conde Maurício de Nássau, prosperam e atraem a simpatia de muitos portugueses, brasileiros e cristãos novos (judeus convertidos à força ao catolicismo). Esperavam estes achar nos ho­landeses um pouco mais de liberdade. No entanto, como mais tarde constatariam, a Companhia das índias Ocidentais não viera para be­neficiar ninguém, a não ser os financistas de Amsterdã.
O empreendimento durou de 1630 a 1654. Durante este período, marcado por admiráveis progressos em diversas áreas, os protestantes ensaiam alguns avanços evangelísticos e missionários. Obreiros são enviados aos índios; visitadores saem a consolar os enfermos com a leitura da Bíblia e a confirmar os fracos na fé, e vários templos começam a funcionar em Recife. Aproveitando-se desta oportunida­de, evangélicos franceses e ingleses também instalam-se na cidade que, mais tarde, viria a tornar-se capital de Pernambuco. Durante a ocupação holandesa, é elaborado um projeto para se traduzir as Sa­gradas Escrituras na "língua brasílica".
Com o término da gestão de Maurício de Nassau, porém, a em­presa flamenga em terras brasileiras começa a entrar em declínio. Finalmente os invasores são derrotados e expulsos do Brasil. Na guerra contra os holandeses, atuaram o paraibano André Vidal de Negreiros, o português João Fernandes Vieira, o negro Henrique Dias e o índio Felipe Camarão.



O EVANGELHO QUE DEMOROU A CHEGAR

A partir de então, muito pouco se pôde fazer pelas almas que, em nossos rincões, suspiravam pela Palavra de Deus. A situação só co­meçaria a melhorar a partir de 1808, com a vinda da família real para o Brasil. Escoltados pelos ingleses, viram-se os príncipes lusitanos obrigados a cumprir determinadas cláusulas que os tornavam de­pendentes de Londres.Tiveram de acabar com as atividades do Santo Ofício em terras brasileiras, e não mais incomodar os súditos do Reino Unido em virtude da fé que estes professavam. Não vamos falar sobre as outras imposições que a Inglaterra colocou sobre Portugal, por não ser este o objetivo da presente obra.
Pressionado pelos ingleses, Dom João VI expede a seguinte de­claração: "Sua Alteza Real, o Príncipe Regente de Portugal declara e se obriga no seu próprio nome e no de seus herdeiros e sucessores a que os vassalos de Sua Majestade Britânica residentes em seus Territórios e Domínios não serão perturbados, inquietados, perseguidos ou molestados por causa de sua Religião, mas, antes terão perfeita liberdade de consciência e licença para assistirem e celebrarem o serviço divino em honra do Todo-Poderoso Deus; quer seja dentro de suas casas particulares, quer nas particulares Igrejas e Capelas que Sua Alteza Real, agora e para sempre graciosamente lhes concede a permissão de edificarem e manterem dentro de seus domínios e conquistas, contanto que as sobreditas capelas sejam construídas de tal maneira que exteriormente se assemelhem a casas de habitação e também que o uso de sinos não lhes seja permitido".
Sob o apanágio deste benevolente decreto, a Igreja Anglicana, bem como as demais denominações históricas, comissionam seus primeiros obreiros a trabalharem entre nós. Vêm os presbiterianos, congregacionais e batistas. E, no início deste século, já sem os empe­cilhos de uma religião oficial, eclode o movimento pentecostal no Pará e, em poucos anos, chega ao Rio Grande do Sul. O movimento pentecostal, trazido para cá pelos missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, representou um dos maiores fenômenos religiosos das últimas eras.






Os historiadores que se ocupam do Avivamento Pentecostal no Século 20 são unânimes em mencionar a Rua Azusa, em Los Angeles, Califórnia, em 1906, como o centro irradiador de onde o avivamento se espalhou para outras cidades e nações.
A Rua Azusa transformou-se em poderosa fogueira divina, onde centenas e milhares de pessoas de todos os pontos da América, ao chegarem atraídas pelos acontecimentos e para ver o que estava se passando ali, eram batizadas com o Espírito Santo, e ao retornarem para suas cidades levavam essa chama viva que alcançava também outras pessoas.
Porém, quem havia trazido a mensagem pentecostal a Los Angeles fora uma senhora metodista, que, por sua vez, a recebera na cidade de Houston, quando tinha ido visitar seus parentes. Antes dessa data (1906), podemos citar também os avivamentos ocorridos na Suécia em 1858, e na Inglaterra em 1740. Na América do Norte, podem-se mencionar os avivamentos nos Estados de Nova Inglaterra em 1854, e na cidade de Moorehead, em 1892, seguidos dos de Galena, Kansas, em 1903, e Orchard e Houston, em 1904 e 1905, respectivamente.
Reportemo-nos, pois, aos acontecimentos do ano de 1906, na Rua Azusa. Em um edifício de forma quadrangular, que anteriormente servira como armazém de cereais, passaram a se reunir milhares de homens e mulheres sedentos da graça divina, para interceder pela salvação dos pecadores e clamar por um avivamento.Todos estavam desejosos de vida abundante, de uma vida de triunfo sobre o pecado.
O pastor W. J. Seymour, que servia nessa igreja, não era pregador eloqüente; porém, seu coração ardia de zelo pela pureza da Obra do Senhor, e sua mensagem era vivificada pelo Espírito Santo. Ele pregava a Palavra de Deus, anunciava a promessa divina, o batismo com o Espírito Santo, e em seguida, voltando a sentar-se em sua cadeira no púlpito, colocava o rosto entre as mãos, e no decorrer dos trabalhos ele não parava de interceder, de pedir que Deus operasse de maneira extraordinária nos corações dos ou­vintes. O que acontecia, então, é inexplicável: o poder de Deus caía sobre a congregação; a convicção das verdades divinas inundava os corações; o desejo de santidade dominava as almas; e, repentinamente, brotavam louvores dos corações; muitos eram batizados com o Espírito Santo, falavam em novas línguas; outros profetizavam; outros cantavam hinos espirituais.
A notícia desses acontecimentos foi anunciada em toda a cidade, inclusive nos jornais seculares, que imediatamente enviaram repórteres para observar e descrever os fatos.
Os membros das várias igrejas, uns por curiosidade, outros por desejo de receber mais graça do céu, chegavam para ver com os próprios olhos aquele fenômeno. Muitos deles traziam consigo a opinião de que tudo aquilo não passava de obra de fanáticos. Porém, todos saíam dali convencidos de que era um movimento divino, e transformavam-se em testemunhas e propagandistas do Movimento Pentecostal que se iniciara naquela ruazinha em Los Angeles.



O FOGO SE ESPALHA

Dentro em pouco os grandes centros urbanos norte-americanos foram alcançados pelo avivamento. Uma das cidades que mais se destacaram e se projetaram no Movimento Pentecostal foi Chicago. As boas-novas do avivamento alcançaram,praticamente, todas as igrejas evangélicas da cidade. Em algumas, houve oposição da parte de uns poucos crentes, porém o avivamento triunfou, pois, além de outras características que o recomendavam, ele se destacava pelo espírito evangelístico e pelo interesse que despertava pelo evangelismo dos outros povos. Ou seja: cada um que se convertia, transformava-se também em missionário.



TOCHAS DESSA FOGUEIRA

Enquanto o avivamento conquistava terreno e dominava a vida religiosa de Chicago, fatos de alta importância envolveram dois jovens suecos residentes nos Estados Unidos, que em breve teriam suas vidas intimamente ligadas à História das Assembléias de Deus do Brasil.
Na cidade de South Bend, no Estado de Indiana, que dista cerca de cem quilômetros de Chicago, morava um pastor batista que se chamava Gunnar Vingren. Atraído pelos acontecimentos do avivamento de Chicago, o jovem originário da Suécia foi a essa cidade a fim de saber o que realmente estava acontecendo ali. Diante da demonstração do poder divino, ele creu e foi batizado com o Espírito Santo.
Pouco tempo depois, Gunnar Vingren participou de uma convenção de igrejas batistas, em Chicago. Essas igrejas aceitaram o Movimento Pentecostal. Ali ele conheceu outro jovem sueco que se chamava Daniel Berg. Esse jovem também fora batizado com o Espírito Santo.
Após uma ampla troca de informações, experiências e idéias, Daniel Berg e Gunnar Vingren descobriram que Deus os estava guiando numa mesma direção, isto é: o Senhor desejava enviá-los com a mensagem do Evangelho a terras distantes, mas nenhum dos dois sabia exatamente para onde seriam enviados.
Algum tempo depois, Daniel Berg foi visitar o pastor Vingren em South Bend. Durante aquela visita, quando participavam de uma reunião de oração, o Senhor lhes falou, através de uma mensagem profética, que eles deveriam partir para pregar o Evangelho e as bênçãos do Avivamento Pentecostal. O lugar tinha sido mencionado na profecia: Pará. Nenhum dos presentes conhecia aquela localidade. Após a oração, os dois jovens foram a uma biblioteca à procura de um mapa que lhes indicasse onde o Pará estava localizado. Foi quando descobriram que se tratava de um estado do Norte do Brasil. Aqueles dois jovens missionários suecos sentiam arder em seus corações o entusiasmo e o zelo pela causa de Cristo. Eram tochas daquela mesma fogueira que começara a arder em Chicago.
A chamada divina foi confirmada quando eles se reuniram para orar nesse sentido, não uma vez,mas durante três dias seguidos .Tratava-se de uma chamada de fé. Pois só exercitando a fé eles poderiam deixar tudo para trás, dar adeus aos Estados Unidos — um país rico e especialmente promissor aos pregadores do Evangelho e sair rumo ao desconhecido. Não tinham qualquer promessa de sustento, quer de igrejas, quer de particulares, mas tinham o coração cheio de confiança em Deus, e isso lhes proporcionava mais segurança do que qualquer promessa humana que por acaso lhes tivesse sido feita.



RUMO AO BRASIL

GunnarVingren e Daniel Berg despediram-se da igreja e dos irmãos em Chicago. A ordem divina era marchar para onde lhes fora designado ir. A igreja levantou uma coleta para auxiliar os missionários que partiam. A quantia que lhes foi entregue só deu para a compra de duas passagens até Nova Iorque. Quando lá chegassem, eles não sabiam como conseguiriam dinheiro para comprar mais duas passagens até o Pará. Porém, esse detalhe não os abalou em nada nem os deteve em Chicago à espera de mais recursos.Tinham convicção de que haviam sido convocados por Deus. Portanto, era da total responsabilidade e especialidade de Deus fazer com que os recursos materiais inexistentes necessários à viagem surgissem.
A primeira etapa da viagem foi iniciada com oração. Na estação da estrada de ferro, antes de embarcarem para Nova Iorque, ante os olhares da multidão, ajoelharam-se, deram graças a Deus, pediram direção para a jornada e partiram para uma terra que não conheciam.
Chegaram à grande metrópole, Nova Iorque, sem conhecer ninguém, e sem dinheiro para continuar a viagem. Naquela cidade, tudo era grande, majestoso e impressionante. O movimento nas grandes avenidas; os edifícios imponentes e mais altos do que quaisquer outros no mundo pareciam alheios à missão dos dois viajantes. As multidões apressadas e as grandes lojas poderiam ter causado admiração aos dois provincianos recém-chegados, porém não lhes ofuscou a visão da grandeza da missão de que haviam sido incumbidos.
Não sabemos o que pensavam os dois forasteiros ao contemplarem o esplendor da babel moderna. Negócios no valor de milhões de dólares eram realizados naquela cidade, mas aqueles rapazes precisavam fazer uma viagem que lhes custaria 90 dólares, e eles não tinham essa importância. Certamente, entre aquele vaivém da multidão, eles pediam ao Senhor que os socorresse e guiasse.

DEUS PROVE 0 DINHEIRO

Os dois missionários caminhavam por uma das ruas de Nova Iorque, quando encontraram um negociante que conhecia apenas o jovem Gunnar. Na noite anterior, enquanto estava em oração, aquele negociante sentira que devia enviar certa quantia ao irmão Vingren. Pela manhã aquele homem colocou a referida importância em um envelope para mandá-la pelo correio, mas enquanto estava caminhando para executar aquela tarefa, viu os dois enviados do Senhor surgirem à sua frente. Surpreso ao ver a maneira especial como Deus trabalhava, o comerciante contou-lhes sua experiência e entregou-lhes o envelope.
Quando o irmão Vingren abriu o envelope, encontrou dentro dele 90 dólares — exatamente o preço de duas passagens até o Pará. Quantas glórias a Deus os nossos irmãos deram naquela hora não sabemos, mas que foram muitas, disso temos certeza.
Aquela oferta de 90 dólares tinha grande significação, não só porque era suficiente para as passagens, mas também porque confirmava, mais uma vez, que os novos missionários estavam, de fato, na vontade de Deus. Não se encontravam eles empenhados em uma obra de fé? A fé tinha de ser provada para ter valor. Por isso Deus lhes enviara 90 dólares; nem mais nem menos do que o necessário, mas o suficiente.
OS PRIMEIROS FRUTOS

No dia 5 de novembro de 1910, a bordo do navio Clement, os missionários deixaram a frígida Nova Iorque com destino à cálida Belém do Pará. As atividades missionárias dos nossos irmãos se iniciaram ali mesmo, a bordo do navio, entre tripulantes e passageiros. Eles distribuíram folhetos e evangelhos; falaram a Palavra de Deus e testificaram a todos. Claro está que nem todos receberam a mensagem, porém os missionários tiveram o privilégio de ver um dos tripulantes aceitar a Cristo, o qual, depois, foi batizado nas águas, e manteria mais tarde correspondência com os missionários. Era o primeiro fruto da missão dos dois servos de Deus, e mais uma prova de que o Senhor estava com os seus servos.

FINALMENTE NO BRASIL

No dia 19 de novembro de 1910, em um dia de sol causticante dos trópicos, os dois missionários desembarcaram em Belém. Não possuíam eles amigos ou conhecidos nessa cidade. Não traziam endereço de alguém que os acolhesse ou orientasse. Vinham unicamente encomendados à graça de Deus; tinham a protegê-los o Deus de Abraão.
Carregando suas malas, enveredaram por uma rua. Ao alcançarem uma praça, sentaram-se em um banco para descansar; e aí fizeram a primeira oração em terras brasileiras. Oraram por um povo que lhes era desconhecido, mas que já amavam, e pelo qual estavam dispostos a sacrificar-se.
Não é fácil imaginar quais foram as primeiras impressões dos jovens missionários naquela tarde em uma praça de Belém, sentindo b sol a aquecer-lhe as roupas grossas e pesadas. Naquela época, Belém não possuía muitas atrações. Além disso, fora invadida por multidões de leprosos vindos até de nações limítrofes com o Amazonas, atraídos pela notícia da descoberta de unia erva que, diziam, curava a terrível doença. A pobreza do povo também contrastava com o padrão de vida da outra América. O diabo aproveitou-se de tudo isso para desanimar os recém-chegados. Estes, contudo, tinham vindo por ordem do Rei dos reis: nada os amedrontaria nem os faria recuar.






Seguindo a indicação dc alguns passageiros com os quais viajaram, os missionários GunnarVingren e Daniel Berg hospedaram-se num modesto hotel, cuja diária completa era de oito mil réis. Em uma das mesas do hotel, o irmão Vingren encontrou um jornal que tinha o endereço do pastor metodista Justüs Nelson. No dia seguinte, foram procurá-lo, e contaram-lhe como Deus os tinha enviado como missionários para aquela cidade.
Como Daniel Berg e GunnarVingren estivessem até aquele momento ligados à Igreja Batista na América (as igrejas que aceitavam ú avivamento permaneciam com o mesmo nome), Justus Nelson os acompanhou à Igreja Batista, em Belém, e os apresentou ao responsável pelo trabalho, pastor Raimundo Nobre. E, assim, os missionários passaram â morar nas dependências da igreja.
Alguns dias depois, Adriano Nobre, que pertencia a igreja presbiteriana e morava nas ilhas,foi a Belém em visita ao primo Raimundo Nobre. Este apresentou os missionários a Adriano, que imediatamente mostrou-se interessado em ajudá-los. Adriano, que folava inglês, convi­dou-os, então, a passarem alguns meses nas ilhas. Eles aceitaram.
A chegada dos missionários suecos em companhia de Adriano foi uma surpresa para os moradores do Rio Tajapuru. Adriano possuía várias propriedades na região. O local em que se hospedaram chamava-se Boca do Ipixuna. Os missionários ficaram maravilhados com a exuberância e as armadilhas da selva.
Eles passaram a morar no quarto de Adrião, irmão de Adriano. Adrião, que nesse tempo ainda não era crente, contou que ficara impressionado com a vida de oração dos jovens missionários. A qualquer hora da noite que despertasse, lá estavam os jovens orando, a sós com Deus, em voz baixa, para não incomodar os que dormiam.
Ao fim de algum tempo, os missionários voltaram a Belém e conti­nuaram a freqüentar a Igreja Batista. Agora já podiam falar português. Vingren continuou a estudar a língua, enquanto Daniel trabalhava como fundidor. Passado algum tempo, Berg começou a dedicar-se ao trabalho de colportagem.



INICIA-SE A BATALHA
Os avivamentos nascem como resultados de oração, e aqueles que vivem nos avivamentos alimentam-se da oração. Os jovens missionários tinham o coração avivado pelo Espírito Santo, e oravam de dia e de noite. Oravam sem cessar.
Esse fato chamou a atenção de alguns membros da igreja, que passaram a censurá-los, considerando-os fanáticos por dedicarem tanto tempo à oração. Mas isso não os abalou. Com desenvoltura e eloqüência, continuaram a pregar a salvação em Cristo Jesus e o batismo com o Espírito Santo, sempre alicerçados nas Escrituras.
Todavia, como resultado daquelas orações, alguns membros daquela Igreja Batista creram nas verdades do Evangelho completo que os missionários anunciavam. Os primeiros a declararem publicamente sua crença nas promessas divinas foram as irmãs Celina Albuquerque e Maria Nazaré. Elas não somente creram, mas resolveram permanecer em oração até que Deus as batizasse com o Espírito Santo conforme o que está registrado em Atos 2.39-
Numa quinta-feira, à uma hora da manhã de dois de junho de 1911, na Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, Celina de Albuquerque,enquanto orava,foi batizada com o Espírito Santo. Após o batismo daquela irmã começaria a luta acirrada contra uma verdade doutrinária tão bem documentada nas Sagradas Escrituras — a atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais.
Logo que amanheceu, a irmã Nazaré apressou-se em ir à casa de José Batista de Carvalho, na Avenida São Jerônimo, 224, para contar as boas novas de que Celina Albuquerque recebera a promessa. Na casa de José Batista achavam-se reunidos vários irmãos, entre eles Manoel Rodrigues, que até então era diácono da Igreja Batista. Mais tarde o irmão Manoel testemunharia: "Foi naquele momento que passei a crer no batismo do Espírito Santo".
O acontecimento recebeu imediata divulgação. Na Igreja Batista al­guns creram, porém outros não se predispuseram sequer a compreender a doutrina do Espírito Santo. Portanto, dois partidos estavam criados.
Durante o culto realizado na noite daquele mesmo dia, o ambiente antes só dedicado a louvores a Deus e à pregação de sua Palavra, foi transformado em um verdadeiro campo de batalha, com muitas disputas de pontos de vista e duelos de palavras. Alguns crentes, aferrados a um tradicionalismo sem qualquer base bíblica, ameaçavam exaltadamente punir, castigar ou desprezar os partidários da doutrina que tanto caracterizara a Igreja Primitiva e os grandes avivamentos que se sucederam.
Após o culto, vários irmãos resolveram ir à casa da irmã Celina para verificarem pessoalmente o que estava acontecendo. Entre aqueles que foram à Rua Siqueira Mendes encontravam-se José Plácido da Costa, Antônio Marcondes Garcia e esposa, Antônio Rodrigues e Raimundo Nobre.



AS POSIÇÕES SE DEFINEM

No dia 10 de junho, a igreja estava em efervescência. Ninguém faltou. A irmã Celina, que fora batizada com o Espírito Santo, compareceu, porém não lhe permitiram que dirigisse a classe de Escola Dominical, conforme vinha fazendo ultimamente. O irmão José Plácido da Costa, conquanto superintendente desta, nada pôde fazer a respeito. A igreja ainda não tinha pastor. Foi então que Raimundo Nobre, sem qualquer autoridade legal, convocou a igreja para reunir-se extraordinariamente no dia 12.
Nesse dia, Raimundo Nobre apoderou-se do púlpito e atacou os partidários do Movimento Pentecostal. O grupo atacado reagiu como outrora reagiram os discípulos quando ameaçados pelo Sinédrio. E lá estava a irmã Celina exaltando a Cristo em línguas estranhas. Não havia mais o que se discutir; as posições estavam definidas. Nesse momento, Raimundo Nobre, de forma arbitrária, propôs que ficassem de pé todos aqueles que aceitavam a doutrina do Espírito Santo. A maioria pôs-se de pé.
Imediatamente Raimundo Nobre propôs à minoria que excluísse a maioria. Não poderia haver ilegalidade mais flagrante. Os membros atingidos, porém, não se atemorizaram. O irmão Manoel Rodrigues levantou-se e, ousadamente, leu em Atos dos Apóstolos 2.39, onde claramente está escrito: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e -a todos os que estão longe; a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar". O irmão Plácido também se levantou e leu em 2 Coríntios 6.17,18. A seguir, os "rebeldes" oraram, e, de mãos erguidas, dando glória ao Cristo amado, abandonaram o local.
Para conhecimento da posteridade, registramos aqui os nomes dos que, arbitrariamente, foram excluídos daquela Igreja Batista por haverem recebido a fé apostólica do batismo com o Espírito Santo: Celina e seu marido Henrique de Albuquerque; Maria Nazaré; José Plácido, Piedade e Prazeres da Costa, estas, respectivamente esposa e filha daquele; Manoel Maria Rodrigues e esposa, Jerusa Rodrigues; Emília Dias Rodrigues; Manoel Dias Rodrigues;João Domingues;Joaquim Silva; Benvindo Silva,Teresa Silva de Jesus e Isabel Silva, respectivamente esposa e filhos; José Batista de Carvalho e esposa, Maria José de Carvalho;Antônio Mendes Garcia. Dessa lista, 17 eram membros, e os outros, menores de idade.



NASCE A ASSEMBLÉIA DE DEUS

Após os empolgantes acontecimentos que duraram exatamente dez dias, o pequeno grupo, no dia 18 de junho de 1911, convidou Daniel Berg e Gunnar Vingren a comparecerem à Rua Siqueira Mendes, 67, em Belém. Com estas 17 pessoas, expulsas arbitrariamente da Igreja Batista, fundava-se a Assembléia de Deus que, nas décadas seguintes, causaria admiração e espanto ao mundo inteiro pela pujança de seu crescimento.
Em tudo isso pode-se notar a mão de Deus operando através de homens e mulheres humildes. Como se vê, esta obra não pertence a homem algum, mas a Deus somente. A nova igreja estava livre para evangelizar. E, ousadamente, anunciava a salvação, a cura divina, o batismo com o Espírito Santo e a volta de Jesus Cristo para buscar a sua Igreja. Estavam todos cheios do poder de Deus. Em resposta às suas orações, o Senhor operava sinais e maravilhas. Vivifi-cando cada testemunho e sermão, o Espírito Santo convencia os mais vis pecadores.



A HISTÓRIA SE REPETE

Os acontecimentos que culminaram com a fundação da Assembléia de Deus repercutiram profundamente entre as várias denominações evangélicas. Porém, o que sacudiu mais fortemente os chamados crentes históricos foi a atividade e o zelo dos membros da igreja recém-formada. O medo de que a Assembléia de Deus viesse a absorver as demais denominações fez com que estas se unissem para combater o Movimento Pentecostal. Aliás, não foi exatamente isto que aconteceu nos dias da Igreja Primitiva? Judeus de todos os matizes uniram-se para combater o
Cristianismo. Mas nada puderam fazer, pois era o Reino de Deus que estava em ação!
No ano de 1911, a história repetiu-se na cidade de Belém. Alguns ingênuos dispuseram-se a combater o Movimento Pentecostal em seu nascedouro. Para alcançarem esse intento, não escolhiam os meios: calúnia, intriga, delação, e até agressão física, tudo era válido. Tudo era usado contra a igreja que acabava de iniciar suas atividades. Chegaram, inclusive, a levar aos jornais a denúncia de que os pentecostais eram uma seita perigosa, tendo como prática o exorcismo. Enfim, alarmaram a população.
Recebendo o violento artigo contra a Assembléia de Deus, A Folha do Norte, antes de o publicar, enviou um repórter disfarçado para averiguar o que realmente acontecia nos cultos pentecostais. O repórter, para causar sensação, endossou os termos do artigo, cujo único objetivo era desmoralizar o trabalho do Senhor. A matéria, todavia, acabou por atrair numerosas pessoas para os cultos da nova igreja. Não poderia haver propaganda melhor.
Por fim, o citado repórter resolveu agir com imparcialidade, como se requer de todo profissional de imprensa. E aqui estão suas reais impressões acerca dos cultos promovidos pela Assembléia de Deus: "Nunca vi uma reunião tão cheia de fé, fervor, sinceridade e alegria entre os crentes". Essa confissão repercutiu como dinamite entre as denominações históricas. Daí em diante, todos queriam ver o que estava acontecendo; iam, viam, ficavam e confessavam que Deus, realmente, estava operando entre os pentecostais.
Vendo que a calúnia não surtira os efeitos esperados, o adversário resolveu usar outra arma: a violência. De repente as casas onde os irmãos se reuniam passaram a ser apedrejadas, e estes, embora não molestassem a ninguém e fossem cidadãos exemplares, começaram a ser gratuitamente insultados. Mas nada conseguia deter o ímpeto do Movimento Pentecostal.



E ESTES SINAIS SEGUIRÃO AOS QUE CREREM

Para convencer corações tão incrédulos e empedernidos, e confirmar a obra em um meio tão hostil, o Senhor começou a manifestar seu poder perante os olhares atônitos dos descrentes. Certa noite, em um culto realizado na Vila Coroa, apareceu um endemoninhado que se retorcia com tanta violência que ninguém o podia conter.
Os descrentes que lá estavam tentaram imobilizá-lo, porém não conseguiram. Em dado momento, a irmã Josina Galvão começou a profetizar e, cheia do poder de Deus, dirigiu-se para onde estava o endemoninhado. Apontando o dedo na direção do possesso, ela ordenou em nome de Jesus que o demônio se retirasse. Para a admiração geral, o homem ficou de cócoras, imobilizado, completamente dominado pelo poder de Deus. Todos viram algo que, como um raio, saiu pela janela e desapareceu. Os incrédulos, que a tudo assistiam, reconheceram que de fato Deus estava no meio daquele povo.
Algum tempo depois, caso idêntico aconteceu na Vila Guarani. Um endemoninhado,ou melhor, o demônio que ameaçava a tudo e a todos foi expulso, em nome de Jesus, ante os olhares de quantos estavam ali. Deus confirmava, dessa maneira, suas promessas no que diz respeito aos sinais que seguem aos que crêem.



ATENDA SC ALARGA

O trabalho estava estabilizado na capital do Pará. A igreja era como que uma colméia de atividades evangelizadoras. Cada membro era um evangelista a testificar a parentes, amigos e vizinhos. Mas o interior do Estado também necessitava de receber as Boas Novas.
Gunnar Vingren era o pastor da igreja, pois essa era a sua vocação. Quanto a Daniel Berg, tinha ele êxito no trabalho de colportagem que lhe dava amplas oportunidades de testificar do amor e da salvação oferecidos por Jesus Cristo. Durante mais de um ano, Daniel percorrera dezenas de ruas de Belém, visitando casa por casa. Adquirira um bom conhecimento da cidade. Vendera muitas Bíblias e evangelhos, e falara de Jesus a muitos na capital paraense. Contudo, outras cidades também necessitavam ouvir a mensagem evangélica.



BRAGANÇA

Foi pensando nessa grande necessidade que Daniel Berg, em 1912, fez a primeira viagem à cidade de Bragança, levando consigo Bíblias, Novos
Testamentos e evangelhos. A primeira pessoa a quem se dirigiu foi o Sr. Arruda, que apesar de ter-se mostrado nada amistoso à mensagem do Evangelho, não tardaria a converter-se a Cristo.
Tentando uma aproximação, Daniel perguntou-lhe se havia pro­testantes na cidade. A resposta veio seca e dura: "Graças a Deus, não!" Bem, mas Daniel lá estava para falar da salvação oferecida por Jesus. E pelo menos, agora, já havia um. E em breve haveria dois: Daniel Berg e o Sr.Arruda. E não demoraria muito para que Bragança estivesse repleta de crentes.
SOURE

Ainda em 1912, Daniel Berg chegou à cidade de Soure, na ilha de Marajó. Ele vendia Bíblias e livros, testificava e realizava cultos. Foram muitas as pessoas que aceitaram a Cristo. Mas a reação dos inimigos do Evangelho não se fez esperar. Os novos convertidos foram ameaçados e até apedrejados. Mas nada de mais grave lhes aconteceu. Um dos perseguidores, destacando-se da turba, gritou: "Tomara que uma onça devore esses pregadores de novidades".Alguns dias depois, a onça penetrou no quintal desse homem e o devorou totalmente. O fato encheu a população de temor, e muitos consideraram o episódio um castigo divino.



SEPARANDO OS PRIMEIROS PASTORES

Antes de o trabalho haver completado dois anos, a falta de obreiros já era sentida em várias localidades onde igrejas e congregações se haviam estabelecido.
O primeiro crente da Assembléia de Deus no Brasil separado para o ministério pastoral foi Absalão Piano. Sua ordenação, presidida pelo missionário Gunnar Vingren, deu-se em fevereiro de 1913 em Rio Preto, Tajapuru do Norte.
O segundo pastor a ser ordenado foi Isidoro Filho, que exerceu o seu ministério inicialmente na Estrada de Ferro de Bragança. O terceiro foi Crispiano de Melo, que serviu nas ilhas paraenses. O quarto chamava-se Pedro Trajano, cuja vida foi. um exemplo de consagração e abnegação à Obra de Cristo. O quinto foi Adriano Nobre, quando já se haviam passado cinco anos desde o estabelecimento da fé pentecostal em terras brasileiras.
XARAPUCU

Daniel chegou a Xarapucu em 1913 com a missão de pregar e distribuir Bíblias entre aquela gente faminta pela Palavra de Deus. Mas ali havia um homem determinado a dar um tiro de espingarda no pregador. E só não o fez por ter perdido a espoleta da arma. Todavia, pouco tempo depois o homem da espingarda converteu-se. Em seguida, ocorreu um avivamento de tal forma naquele lugar, que num curto período de tempo levou mais de 300 almas aos pés de Cristo.



CATIPURU .

Em poucos lugares do Pará o início do trabalho foi mais cheio de incidentes, ameaças, prisões e tocaias do que em Catipuru. Data de 1913 o início dos trabalhos na pequena igreja. Ali os crentes não eram bem vistos.
Certo dia as autoridades prenderam arbitrariamente os irmãos, supondo que com esse ato os amedrontariam. Porém aconteceu o que os inimigos da Obra de Deus não previram. Ao chegarem à prisão, os crentes ajoelharam-se para agradecer a Deus pelo fato de serem achados dignos de sofrer por amor ao Evangelho. E ali mesmo o Senhor Jesus batizou um rapaz com o Espírito Santo.
Vendo que não conseguiriam impedir as reuniões, os perseguidores (cerca de cinqüenta) resolveram matar o pegador, e combinaram esperá-lo na estrada pela qual este deveria passar. Porém está escrito que o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra. E foi o que aconteceu. O Senhor guiou Daniel Berg a passar por outro caminho e, dessa forma, não o puderam matar. Não havia mais o que duvidar: o próprio Senhor Jesus Cristo era o responsável pela vida de Daniel Berg.
O ano de 1913 foi assinalado por grandes acontecimentos. Como fruto do trabalho ativo de evangelização, converteu-se, no interior do Estado, Clímaco Bueno Aza, que haveria de tornar-se um excelente colportor e evangelista. Ele estava tão ciente de sua chamada que deixou os negócios particulares, dedicando-se inteiramente à evangelização na Estrada de Ferro Belém-Bragança.
Aza abriu igrejas em Igarapé-Assu, Benevides, Capanema, Timboteua, Peixe-Boi e Bragança. Em seguida, saiu a desbravar novas frentes de evangelização em outros Estados.
ESPÍRITO MISSIONÁRIO

Haviam-se passado apenas dois anos desde que a Assembléia de Deus iniciara suas atividades em terras brasileiras. Talvez alguém pensasse ser ainda muito cedo para enviar missionários a outros países. Mas para Deus o tempo oportuno é sempre hoje. O agora é o tempo de Deus.
Ao iniciar-se o ano de 1913, Gunnar Vingren sentiu que devia falar a José Plácido da Costa sobre a necessidade de se levar as Boas Novas a outras terras. O missionário Vingren foi direto ao assunto: "Irmão Plácido, por que não vai pregar o Evangelho ao povo português?" Embora não pudesse responder afirmativamente naquele momento, Plácido dã Costa compreendeu que esta era a vontade de Deus. A mensagem pentecostal traz, em si, o espírito missionário. Como resistir ao apelo da Grande Comissão? Foi assim na Igreja Primitiva, e não poderia ser diferente em nossos dias. Por este motivo, o irmão Plácido não pôde resistir ao chama­do divino.
No dia 4 de abril de 1913, José Plácido da Costa e família embarcaram no navio Hildebrand, na cidade de Belém, com destino a Portugal. Essa foi a primeira demonstração viva e prática do espírito missionário de uma igreja que contava apenas dois anos de atividades.
Segundo o relatório prestado por Plácido da Costa, o trabalho em Portugal foi estabelecido logo no mês seguinte. Ou seja: em maio de 1913. A mensagem pentecostal passou a ser triunfalmente propagada em terras lusitanas.




NO INTERIOR DO ESTADO

Apesar das dificuldades de transporte, os novos bandeirantes continuavam ativos. Através de rios, chegavam às mais distantes ilhas; atingiam os mais desconhecidos rincões. À semelhança de seu Senhor, não tinham condução própria, mas havia sempre alguém disposto a conduzi-los nessa cruzada de fé e amor.



ILHA CAVIANA

Quando Daniel Berg chegou a Caviana em 1914, essa ilha já havia sido evangelizada. O missionário foi bem recebido até mesmo pelos não crentes. Como as dificuldades de transporte eram muito grandes, os irmãos oraram ao Senhor, pedindo-lhe que lhes desse um barco. A resposta divina não se fez esperar. Um fazendeiro local ofertou um barco que foi consagrado ao serviço do Mestre com o nome de Boas Novas. Mais tarde, outras embarcações, maiores e melhor equipadas, seriam utilizadas para o mesmo fim.
Enquanto isto estava acontecendo, a igreja em Belém recebia, com muito júbilo, as notícias do progresso da Obra de Deus no interior do Estado, e as transmitia às coirmãs na América do Norte e na Suécia. Através dessas notícias, Deus falava ao coração de seus servos, compungindo-os a virem se juntar aos nossos dois pioneiros: Daniel Berg e Gunnar Vingren.
No dia 25 de outubro de 1914, isto é, no ano em que teve início a Primeira Grande Guerra, chegava a Belém o terceiro missionário de fé pentecostal: Otto Nelson e Adina, sua esposa. Eles representavam, sem dúvida, um grande reforço para o trabalho, pois nessa época o número de obreiros era insignificante. O irmão Otto demorou-se apenas três meses em Belém, viajando em seguida para a cidade de Bragança, onde ministrou até agosto de 1915.
O ano de 1915 foi pleno de vitórias tanto na capital como no interior. Foi exatamente neste período que as viagens evangelísticas de Clímaco Bueno Aza tornaram-se mais que notórias. Igrejas eram fundadas em diversas cidades; os milagres se sucediam, deixando o adversário envergonhado. Enfim: o prestígio da Assembléia de Deus crescia por toda parte.



SÃO LUIZ

A Assembléia de Deus na cidade paraense de São Luiz teve o seu início em 1915. Aqui o trabalho prosperou em todas as frentes, mostrando que as forças do inferno jamais haveriam de prevalecer contra a Igreja de Cristo.
Em 1916, os efeitos da grande guerra, sentidos larga e dolorosamente na Europa, começavam a se refletir de maneira sensível no Brasil. A Obra de Deus, porém, não sofreria qualquer interrupção ou recuo. Em 18 de agosto desse ano, chegava a Belém, procedente da Suécia, via América do Norte, mais um casal de missionários: Samuel e Lina Nystrõn.
A chegada do casal Nystrõn foi para a igreja como a chuva em tempo de verão. Eles chegavam no tempo oportuno. Pois o desenvolvimento do trabalho exigia os esforços de muitos obreiros dedicados. Mas Samuel
Nystrõn não se demorou em Belém; no ano seguinte já estava em Manaus. Ele marcaria, assim, o seu pioneirismo no Estado do Amazonas.


CAPANEMA

Apesar da guerra na Europa e em outras regiões do mundo, o trabalho do Senhor continuou a avançar vitoriosamente no interior do Pará. No dia 6 de março de 1916, a cidade de Capanema assistiu à fundação da Assembléia de Deus. Esta igreja se tornaria grandemente operosa no campo missionário e da evangelização local.
A Assembléia de Deus em Belém iniciou e findou o ano de 1917 alcançando expressivas vitórias. Foi nesse ano que José de Matos se viu convocado a trabalhar na Seara do Mestre.Tudo aconteceu enquanto Matos pilotava o navio Lino Sá. À semelhança de Samuel, ele ouviu a voz de Deus. Ouviu e obedeceu.
Foi ainda em 1917 que a Assembléia de Deus no Pará assistiu ao casamento de seu pastor Gunnar Vingren com a irmã Frida. O acon­tecimento deu-se no dia 16 de outubro, repercutindo em todo o Estado.
Em novembro de 1917 foi publicado o primeiro jornal da Assembléia de Deus no Brasil: A Voz da Verdade. Dirigido pelo pastor Almeida Sobrinho e João Trigueiro, esta foi a primeira matéria do periódico:"Jesus é quem batiza com o Espírito Santo e com fogo".. 4 Voz da Verdade publicava as notícias do trabalho no interior, endereços e horários de cultos, notas sociais e outras matérias.
Do primeiro número do jornal, extraímos estas expressivas notas: "Os nossos irmãos Samuel Nystrõn e Daniel Berg em uma viagem evangelística que fizeram a seis igrejas da fé apostólica, no interior deste Estado, batizaram 90 pessoas. A Assembléia de Deus, em São Luiz (Pará), tem crescido tanto que o vasto salão da Casa de Oração tornou-se pequeno para acomodar os irmãos que ali se reúnem. O pastor Gunnar Vingren batizou, no batistério da Assembléia de Deus,nesta cidade (Belém), 12 pessoas que se entregaram a Jesus. O nosso irmão Severino Moreno foi para Manaus e lá testificou acerca da verdade gloriosa de que Jesus batiza no Espírito Santo; foi tão abençoado que precisou ir para aquela capital um missionário da fé apostólica'(Assembléia de Deus).
Pelo que acima se pode ler, verifica-se quão pentecostal era A Voz da Verdade que servia à Assembléia de Deus.
Em Bragança, uma das cidades mais prósperas do Pará, a Assembléia de Deus foi fundada em 1917, sendo Isidoro Filho o seu primeiro pastor. O ano seguinte foi dedicado ao planejamento do avanço da igreja. Nesse exercício, não se registraram acontecimentos dignos de publicidade. Contudo, as notícias que chegavam do interior alegravam a todos, e faziam prever estrondosas vitórias. -
De Bragança, Clímaco Bueno Aza escrevia, narrando as maravilhas que Deus realizava, e insistindo que lhe enviassem mais Bíblias e outras literaturas para serem distribuídas. De outras cidades vinha o mesmo clamor. Foi justamente nesse período que os líderes sentiram a premente necessidade de um jornal que unisse o povo de Deus, compartilhando notícias e estudos bíblicos, pois A Voz da Verdade vinha atendendo apenas parcialmente a esta necessidade.
Em 1918, Clímaco, que até então era evangelista, foi separado para servir como pastor



NOVO CAMPO DE AÇÃO

A Assembléia de Deus no Pará voltou-se, em 1919, para um novo campo de ação: a literatura. A Voz da Verdade deixou de circular em janeiro de 1918.Todos eram unânimes em reconhecer a necessidade da criação de um jornal que divulgasse as doutrinas apostólicas.
Era um campo de ação que, nas mãos de Deus, haveria de produzir cento por um.
E foi assim que apareceu o Boa Semente. O primeiro número desse jornal foi publicado em janeiro de 1919. Estava aberto o caminho para novas conquistas para o Reino de Deus. Gunnar Vingren foi o seu primeiro diretor, e entre os seus colaboradores encontrava-se Samuel Nystrõn. Apesar dos encargos, o jornal Boa Semente haveria de vingar, florescer e frutificar.
A igreja crescia na capital e no interior. Em Belém, abriam-se novos locais de culto; no interior organizavam-se novas igrejas. Para atender à necessidade sempre crescente de obreiros, a igreja reuniu-se no dia 15 de dezembro de 1919 com o objetivo de separar José Paulino Estumano de Morais para servir como pastor. O irmão Morais fora, durante muitos anos, presbítero da Igreja Presbiteriana Independente. Mas, tendo em vista a sua experiência pentecostal, resolveu unir-se à Assembléia de Deus
em 1917.
BONITO

Em fins de 1919, Joaquim Amaro do Nascimento, Francisco Santos Carneiro e João Paraense, juntamente com as suas respectivas famílias, mudaram-se para a localidade dantes conhecida como Assaisal. Aí che­gando Joaquim Amaro convenceu as pessoas do lugar que, dali em diante, o nome da localidade seria Bonito. A idéia foi aceita.
Porém, o culto que daria origem à igreja em Bonito somente foi realizado no dia 12 de julho de 1920 na casa de Joaquim Amaro. O pastor PedroTrajano foi quem dirigiu o culto. O batismo dos primeiros convertidos também foi efetuado pelo pastor Trajano numa das visitas que este fez à pequena congregação.
A Assembléia de Deus em Bonito cresceu rapidamente, fazendo-se necessária a assistência efetiva de um pastor. E o eleito foi o pastor Absalão Piano, que liderou aquela igreja de 1920 a 1928, data em que se transferiu para Urucuritema, para atender a um outro chamado. No pastorado de Absalão Piano, o rebanho do Senhor cresceu e espalhou-se pelas cidades vizinhas. Nesse período foi construído o espaçoso templo inaugurado no dia 14 de fevereiro de 1925.
Com a mudança de Absalão Piano, a igreja ficou dois anos sob a direção do presbítero Joaquim Amaro. O segundo pastor da igreja em Bonito foi o irmão José Bezerra Cavalcante, homem prudente e mui experimentado na Obra do Senhor. Apesar das dificuldades encontradas, em poucos meses a vitória já estava consolidada em suas mãos.
Na gestão do pastor Bezerra Cavalcante, a igreja cresceu espiritual e economicamente. Em 30 de setembro de 1930 foi inaugurado o segundo templo. No ano seguinte, o pastor Bezerra foi substituído pelo pastor João Trigueiro da Silva, que ali serviu até 1936, ocasião em que passou o cargo ao pastor Manoel César da Silva que, por seu turno, permaneceria até 1938. Nessa data, tomou posse o pastor Joviniano Rodrigues Lobato, cujo ministério estendeu-se até 1943- José Leonardo o substituiria, nessa data,
indo até 1945.
Durante os meses seguintes, a igreja esteve sem pastor. O pastor Otoniel Alencar dirigiu a Assembléia de Deus em Bonito durante 10 meses, passando o cargo ao pastor Leonardo Luz, que o conservou até 1946. Veio depois o pastor Manoel Malaquias Furtado, que permaneceu até 1949, entregando, nessa data, as responsabilidades administrativas ao pastor Manoel Pinheiro, que iria até agosto de 1952.
Mais uma vez, a igreja ficou sob os cuidados dos presbíteros José Rodrigues e Joaquim Amaro do Nascimento até a chegada do pastor José Menezes, que tomou posse do cargo no dia 14 de dezembro de 1952. Em 1936, quando pastor em Manaus,o irmão Menezes tivera a revelação de que iria dirigir a Assembléia de Deus em Bonito. E a revelação cumpriu-se de forma cabal.
Com a chegada do pastor Menezes, homem de visão e de iniciativa, a igreja entrou na fase mais próspera de sua existência. Uma das , primeiras iniciativas de José Menezes foi a construção de um templo digno da obra que representava. Era essa uma tarefa difícil, sem dúvida, em razão da falta de recursos, e de operários crentes especializados. Não obstante, grandes e pequenos participaram da construção, desde os alicerces até as cortinas do batistério. O lindo e espaçoso templo da Assembléia de Deus foi inaugurado em 30 de novembro de 1955.


A CHEGADA DE NELS NELSON

No dia 21 de março de 1921, chegava a Belém, vindo da América do Norte, o missionário Nels Nelson. Era mais um pioneiro que chegava para juntar-se aos destemidos arautos do Evangelho. O missionário Nels J. Nelson tinha, então, 26 anos; vinha cheio de vida e disposto a levar muitas almas a Cristo.
Embora não tenhamos dados completos das primeiras atividades do missionário Nelson, sabemos que os primeiros quatro anos ele os passou nas ilhas, viajando, pregando a tempo e a fora de tempo, comendo quando havia o que comer, e sofrendo fome quando não havia alimento. Após esse período, o missionário aparece em vários empreendimentos, em diversas épocas e lugares registrados nas páginas deste livro. Em 1922, Nels J.Nelson assumiu a responsabilidade do trabalho nas ilhas do Estado do Pará, onde atuou durante quatro profícuos anos.
O ano de 1921 assinala, também, o aparecimento do primeiro livro de hinos — o Cantor Pentecostal. Com 44 hinos e 10 coros e impresso pela tipografia Guajarina, foi editado por Almeida Sobrinho e distribuído pela Assembléia de Deus na Travessa Nove de Janeiro, 75.
Nos primeiros anos de atividades, as Assembléias de Deus usavam os Salmos   e   Hinos,   um   hinário   comum   a   várias denominações evangélicas.Todavia, a vida, as atividades e as doutrinas específicas exigiam o uso de uma hinologia essencialmente pentecostal. Pouco a pouco, foram surgindo os valores intelectuais para se constituírem a expressão poética das Assembléias de Deus.



CHEGAM OS REFORÇOS

Mil novecentos e vinte e um foi o ano de expansão do trabalho. Belém continuava a ser o centro das atividades pentecostais em terras brasileiras. As notícias da abertura e do progresso de novos campos chegavam às igrejas na Suécia e na América do Norte, e muitos obreiros foram tocados por Deus para vir trabalhar no Brasil.
No dia 21 de março de 1921 desembarcavam do navio Uberaba, em Belém, procedentes da América do Norte, nada menos que 12 obreiros da seara pentecostal. Era um reforço potencialmente expressivo para a causa do Senhor. Essa foi uma data festiva para a Assembléia de Deus no Brasil.
Além dos nomes registrados nas páginas deste livro, outros obreiros muito contribuíram para o progresso da Obra Pentecostal em seus primórdios:Vitor Johnson e esposa; Ana Carlson; Beda Palma; Gay de Vris; Augusta Andersson; Ester Andersson; Elisabeth Johnson e Ingrid Andersson.
Esse esforço, porém, não foi suficiente para atender aos apelos que chegavam dos campos. A igreja necessitava de muitos obreiros. Atendendo a esses reclamos, a Assembléia de Deus em Belém separou, no dia 2 de março de 1921, Bruno Skolimowski para servir como pastor. E, de fato, ele viria a pastorear diversas igrejas no Pará e no Sul do Brasil.
A Assembléia de Deus no Brasil recebia missionários, mas também os enviava a outras terras. No dia 21 de julho de 1921, o pastor José Matos embarcava com destino a Portugal. Era o segundo obreiro que saía de Belém para semear o Evangelho na poética e heróica Lusitânia.
De 18 a 22 de agosto de 1921 realizou-se a Convenção Regional das Assembléias de Deus no Estado do Pará. A convenção foi hospedada em São Luiz, estando representadas as igrejas de Bragança, Cuatipuru, Tacari, Capanema, Abaeté, Bonito, Burrinho, Cedro, Tomboteua, Pau Amarelo, Peixe Verde, Guaná, Belém e Arama.
A PRIMEIRA ESCOLA BÍBLICA

Por sua posição de primeira igreja e centro das atividades evangelísticas no Brasil, a Assembléia de Deus em Belém tinha a res­ponsabilidade de preparar os obreiros que, dia a dia, o Senhor ia chamando. Foi considerando essa necessidade que a Assembléia de Deus em Belém organizou e realizou a Primeira Escola Bíblica Pentecostal. Os estudos bíblicos, ministrados pelo missionário Samuel Nystrõn, estenderam-se de 4 de março a 4 de abril de 1922.
Estes foram os pastores presentes à primeira Escola Bíblica das Assembléias de Deus:José Morais, Bruno Skolimowski, Isidoro Filho, José Felinto, Almeida Sobrinho, Antônio Rego Barros, Julião Silva, Francisco Gonzaga, José da Penha, Juvenal Roque de Andrade, João Queirós, João Batista de Melo, Manoel César, Paulino Fontenele da Silveira, Januário Soares e João Francisco Argemiro.
No mesmo ano foi realizada a Convenção Regional na cidade de Afuá, que reuniu os obreiros de todo o Estado para estudarem a Palavra de Deus. Renovados pela graça divina, eles voltaram aos seus campos mais que dispostos a ganhar o mundo para Cristo.
Em 1922 era publicada no Recife a primeira edição da Harpa Cristã, que passou a ser o hinário oficial das Assembléias de Deus. A primeira edição continha 100 hinos, e foi impressa nas oficinas do Jornal do Comércio, na capital pernambucana. A tiragem de mil exemplares teve como editor Adriano Nobre. A distribuição estava a cargo de Samuel Nystrõn. Já a segunda edição da Harpa Cristã,com 300 hinos,foi impressa nas oficinas Irmãos Pongheti,no Rio de Janeiro, em 1923-
A Assembléia de Deus em Belém, tendo à frente o pastor Samuel Nystrõn, resolveu ampliar o trabalho de evangelização através da palavra impressa, adquirindo as primeiras máquinas para imprimir o Boa Semente, folhetos, opúsculos e outros materiais impressos. Corria o ano de 1923. O primeiro opúsculo a ser impresso naquelas oficinas foi Jesus Cristo e Este Crucificado.
A segunda Escola Bíblica, sob os auspícios da Assembléia de Deus em Belém realizou-se de 24 de março a 28 de abril de 1924. Os participantes, que ultrapassavam a casa dos 40, vinham dos Estados do Pará, Ceará e Rio Grande do Norte.
VOZES DO SUL

O trabalho já estava consolidado em Belém. A igreja tinha como pastores os irmãos Gunnar Vingren e Samuel Nystrõn. As escolas bíblicas eram uma bênção. Quanto à tipografia, já estava funcionando plenamente. E, neste setor, a cooperação de Nels J. Nelson era vital. Entretanto, alguma coisa estava acontecendo no Rio de Janeiro que acabaria por mudar as perspectivas da Obra Pentecostal em terras brasileiras. No início de 1924, alguns irmãos que se haviam mudado para a então Capital Federal, ante o número sempre crescente de novos convertidos, começaram a orar para que Deus lhes enviasse um pastor. Ao mesmo tempo, escreviam à igreja em Belém, insistindo no envio desse obreiro. Os pedidos eram cada vez mais insistentes. Eram as vozes do Sul que clamavam por auxílio.
Como resposta, Deus dirigiu o pastor da igreja, Gunnar Vingren, a transferir-se para o Rio de Janeiro, a fim de organizar a igreja do Senhor, atendendo ao clamor do Sul. Assim, em abril de 1924, o missionário Vingren e família deixaram, após longos anos de convivência, a igreja em Belém, que tanto amavam, para servir em outro campo que Deus havia preparado. A Assembléia de Deus em Belém perdia seu pastor, é certo, mas atendia ao clamor daqueles que desejavam ganhar o Brasil para Cristo. Não foi somente o missionário Vingren que a igreja cedeu às necessidades do Sul, que eram cada vez mais acentuadas. Mais tarde, os missionários Samuel Nystrõn e Nels Nelson também atenderam ao apelo do Sul, e deixaram o pastorado em Belém em obediência à ordem divina.

A ADMINISTRAÇÃO SE RENOVA

Com a partida de Vingren para o Rio de Janeiro, a direção da Assembléia de Deus em Belém ficou sob a responsabilidade de Samuel Nystrõn, que nas atividades pastorais e nas oficinas contava com a ajuda do missionário Nels J. Nelson e do irmão Plácido Aristóteles, homem de reconhecida capacidade literária. A igreja crescia em número e espiritualidade, e exigia cada vez mais espaço para operar.
No dia 30 de outubro de 1926 inaugurava-se o segundo templo da Assembléia de Deus em Belém, com a presença de mais de 1.200 pessoas. O santuário estava localizado na Travessa 14 de Março, esquina com São Gerônimo. Em 1927, a Assembléia de Deus em Belém, considerando a falta de pastores e evangelistas, e atendendo ao fato de que muitas igrejas passavam meses seguidos sem visita de obreiros, iniciou o que se pode chamar de evangelismo itinerante. Para esse ministério foi designado o pastor José Morais, que deveria servir em tempo integral.

PRIMEIROS PASSOS DA BENEFICÊNCIA

De 24 de outubro a 7 de novembro de 1927, realizou-se em Belém mais uma Escola Bíblica juntamente com a Convenção de Ministros do Evangelho. Uma das decisões mais importantes foi a concessão de um auxílio às viúvas e filhos dos obreiros falecidos no exercício do cargo. Estava criada a Caixa das Viúvas dos Pastores. O primeiro tesoureiro da entidade foi o irmão Manoel M. Rodrigues.
Foi esse o primeiro movimento de beneficência das Assembléias de Deus. Apesar de não possuir muitos recursos, pois dependia de ofertas voluntárias, esse movimento representou o embrião de muitos outros empreendimentos similares. Em 1940, numa convenção realizada na cidade paraense de São Luiz, fundou-se a caixa que, em 1953, sofreu várias reformas, ganhando em 1954 estatutos e forma jurídica — a Caixa de Beneficência do Pará.



MAIS OBREIROS

No dia 26 de setembro de 1928 chegavam a Belém o missionário Algot Svenson e esposa. Aí ficaram até 1930, quando então seguiram para Maceió, capital de Alagoas. A igreja necessitava de obreiros, tanto para a capital como para o interior. Para atender a essa necessidade, a Assembléia de Deus em Belém convidou o pastor José Felinto de Oliveira para auxiliar o trabalho local. Falecendo este logo a seguir, foi substituído pelo pastor José Felinto. Enquanto isto, era separado para servir como pastor nas ilhas, no dia 2 de março de 1930, o irmão João Trigueiro, crente antigo e experimentado na fé que, sem mais tardançá, entrou em atividade.
Em 1930, com a mudança de Samuel Nystrõn para o Sudeste, primeiro para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, o missionário Nels J. Nelson assumiu a responsabilidade do pastorado em Belém. Para auxiliá-lo, a igreja convidou o pastor Pedro Trajano, um dos primeiros obreiros separados para o ministério.
Em 1935, o missionário Nelson licenciou-se por nove meses do pastorado da Assembléia de Deus em Belém a fim de atender a igreja em
Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Durante a sua ausência, a igreja contou com a cooperação do pastor José Bezerra Cavalcante.
Com a volta do missionário Nelson, o trabalho ganhou novo impulso. Em novembro de 1936, o pastor Francisco Pereira do Nascimento foi convidado a auxiliar a Assembléia de Deus em Belém. Ao lado de Nelson e Trajano, entrou logo em atividade. Em não poucas ocasiões foi enviado a auxiliar outras igrejas, mas logo regressava para reocupar o seu posto em Belém.
No ano de 1936, para comemorar o vigésimo quinto aniversário de sua fundação, a Assembléia de Deus em Belém promoveu a realização da Convenção Geral em sua sede. Pastores e missionários que viviam no estrangeiro e que, direta ou indiretamente, estavam ligados às suas atividades, foram convidados e fizeram-se presentes.
A Convenção Geral atraiu a Belém dezenas de missionários, pastores e evangelistas. Entre outros, estiveram presentes Daniel Berg e Samuel Nystrõn, que trabalhavam em Portugal, e A. A. Holmgren, redator do jornal Sanigens Vittne, que muito fez em favor do trabalho do Brasil.
Também esteve presente a irmã Celina Albuquerque, a primeira pessoa a ser batizada no Espírito Santo, no Brasil. As comemorações do 25° aniversário da Obra Pentecostal no Brasil estenderam-se de 13 a 20 de junho de 1936, delas participando toda a igreja.
João Pereira de Queiroz também exerceu o pastorado na Assembléia de Deus em Belém. O pastor José Paulino Estumano de Morais auxiliou no pastorado da igreja durante oito anos, e o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, por mais de dois anos.
Com a ida do missionário Nels J. Nelson para o Rio de Janeiro, em 1947, assumiu a direção da Assembléia de Deus em Belém o irmão Francisco Pereira do Nascimento. Com a experiência que vinha acu­mulando desde 1938, o pastor Pereira do Nascimento deu novo alento aos trabalhos. Com a mudança do pastor José de Morais para Timboteua, a igreja em Belém convidou Armando Chaves Cohen para auxiliar no pastorado local. Nesse período, a Assembléia de Deus contou com a cooperação do missionário Hultgren, que visitava as igrejas e com elas cooperava.
Quando se organizou o serviço de evangelização dos grandes rios Araguaia e Tocantins, o pastor Cohen acompanhou o missionário Carlos Hultgren, que chegara a Belém em 30 de novembro de 1950 com a sua família, a fim de cooperar na evangelização do Norte do Brasil.
Algum tempo depois, o pastor Cohen voltou a Belém para, em seguida, aceitar a direção da Assembléia de Deus em Carolina, Maranhão. Para o lugar do pastor Cohen a igreja em Belém convidou o pastor José Pinto de Menezes, o qual já vinha servindo ao lado do pastor Pereira do Nascimento, desfrutando da confiança de toda a comunidade dos fiéis.
Além dos 12 templos que a igreja possuía na cidade para congregar os sete mil membros arrolados (dados de 1955), o templo central em Belém foi ampliado duas vezes, em 1933 e em 1947, tornando-se, assim, o maior templo evangélico da capital paraense.
Atendendo às necessidades de seus membros e às exigências da cultura e do progresso, a Assembléia de Deus em Belém projetou e construiu o Colégio Evangélico, um edifício com 24 salas de aula, além de gabinetes e outras dependências. O colégio está situado na Travessa Vileta, entre a Av. Duque de Caxias e 25 de setembro, num terreno que mede 60 metros de frente.






Folheando as páginas do primeiro jornal da Assembléia de Deus no Brasil, A Voz da Verdade, em seu primeiro número de novembro de 1917, encontramos esta pequena, mas esclarecedora notícia: "O nosso irmão Severino Moreno foi para Manaus, e lá testificou acercada gloriosa verdade de que Jesus batiza com o Espírito santo. Seu trabalho foi tão abençoado e resultou em tantos frutos que precisou ir para aquela capital um missionário da fé apostólica" (Assembléia de Deus).
Como se vê, Severino Moreno de Araújo foi quem levou a mensagem pentecostal mais para o norte. Não foi o acaso que o impulsionou. A atmosfera espiritual e as atividades evangelísticas da Assembléia de Deus em Belém inspiraram os crentes a olhar para os campos que já estavam brancos para a ceifa. Severino não foi desobediente à ordem divina.
A semente estava lançada! Tempos depois, escrevia ele pedindo que lhe enviassem um obreiro para instruir os que haviam aceitado o Evangelho de Cristo. No dia 18 de outubro de 1917, embarcava em Belém com destino a Manaus o missionário Samuel Nystrõn e esposa, atendendo ao clamor macedônico aqui parafraseado: "Olhai mais para o Norte, e ajudai-nos".
O dia 1o de janeiro de 1918 pode ser considerado a data de fundação da Assembléia de Deus em Manaus. Os primeiros cultos foram realizados na Casa de Oração localizada na Rua Henrique Martins, esquina da Rua 13 de Maio (atualmente Avenida Getúlio Vargas). O registro dos primeiros novos convertidos assinala dois nomes: Horácio da Silva Ventura e Fausta de Souza Lima. Três meses após a fundação da Assembléia de Deus, realizou-se o primeiro batismo nas águas na capital do Amazonas. O batismo foi efetuado pelo missionário Samuel Nystrõn nas águas do igarapé Mestre Chico (Terceira Ponte). Entre os batizandos achava-se a irmã Fausta Souza Lima.
Os primeiros batizados com o Espírito Santo foram as irmãs Adalgiza e Fausta de Souza Lima,e os irmãos Domiciano e José, ambos enfermos — um leproso e outro tuberculoso —, mas para admiração dos homens e glória de Deus, foram ambos totalmente curados.
A igreja em Manaus crescia em número e em espiritualidade; pas­tor e membros desdobravam-se em serviços para o Reino de Deus. Todos testificavam com poder. Os pecadores aceitavam a Cristo, e eram imediatamente batizados com o Espírito Santo. Assim se passa­ram quatro anos de lutas e vitórias na novel igreja, sob os cuidados do missionário Samuel Nystrõn.
No final desse período, Samuel Nystrõn teve de regressar urgente­mente para Belém. A igreja em Manaus, embora sentisse falta de seu pastor, continuou a sua missão evangelizadora sob a responsabilidade dos irmãos mais antigos. Não obstante, todos queriam um pastor. Como os lobos ameaçassem o rebanho, a igreja clamou ao Senhor da seara.

NOVAS PERSPECTIVAS

Enquanto isso, o Senhor Jesus constrangia o pastor Manoel José da Penha, em Belém, a viajar imediatamente para o Amazonas. A igreja em Manaus nada sabia dessa viagem. E, assim, Manoel José da Penha pôs-se a caminho, chegando à capital amazonense em 9 de maio de 1923. Nesse dia, foi ele recebido como a resposta divina àqueles clamores incessantes.
Com a chegada do novo pastor, a igreja rejuvenesceu-se e entre­gou-se mais ativamente aos trabalhos. Cultos também eram realizados na residência do irmão Severino Moreno de Araújo. Mas o trabalho continuava a exigir a colaboração de mais obreiros. E estes não tardariam a chegar.Vindo de Belém, o irmão Domingos Elias dos San­tos tornou-se eficiente auxiliar do pastor. Da Igreja Presbiteriana vie­ram os seguintes irmãos: Pedro Alexandrino da Silva, Mariana da Sil­va e família, e a irmã Joaquina Pedroso Lima (irmã Quininha). Outros cooperadores fiéis e dedicados vieram de igual modo juntar os seus esforços em prol do Reino de Deus: Domingos Elias dos Santos e João da Silva. Este último, cabo da Marinha de Guerra, estagiava nessa época em Manaus.
Alguns dias após a chegada do pastor Manoel José da Penha, isto é, em 24 de maio de 1923, a igreja reuniu-se no igarapé da Terceira Ponte para assistir ao batismo de outros novos convertidos. Desceram às águas, de acordo com a Palavra de Deus, os irmãos Ernesto de Souza Lima (oficial da Polícia Militar), Honoreto Galvão João Pedro da Silva (cabo foguista da Marinha Mercante), Raimundo Rosa, e a irmã Josefina (a ceguinha). Esta, após ter sido batizada com o Espírito Santo, começou progressivamente a ver até que ficasse completamente curada.
As festividades natalinas, as primeiras celebradas no pastorado do irmão Penha, foram mais que expressivas. O culto foi realizado no templo provisório localizado na Rua Emílio Moreira. Nesse 25 de dezembro de 1923, a igreja recebia como membros as seguintes pessoas: Violeta Coimbra do§ Santos e filhos, e Hermelinda Emília Coimbra dos Santos, vindas de Belém, Pará, e os irmãos Jesuíno Pereira de Melo e Martins Medeiros, ambos provenientes da Igreja Batista.
O progresso da Assembléia de Deus em Manaus foi tal que se fez necessário obter um prédio maior. A igreja resolveu, então, transfe­rir-se para a Rua Luiz Antony, esquina com a Monsenhor Coutinho.
Com grande pesar, a igreja viu partir, em setembro de 1924, o .pastor Manoel José da Penha. No entanto, logo viria o consolo: José Paulino Estumano de Morais ocupou-lhe o lugar, e, neste pastorado, mostrou eficiência e dinamismo. Ele ocuparia o posto até 1927. As atividades do pastor José Morais estenderam-se da capital ao interior do vastíssimo Estado do Amazonas. No ano de 1925, com a saída do missionário Paulo Aenis, assumiu a responsabilidade da Assembléia de Deus em Alto Madeira o missionário Nels J. Nelson.
A Assembléia de Deus em Manaus hospedou a Convenção Regi­onal que se realizou de 15 a 22 de novembro de 1936. Nessa época pastoreava a igreja o irmão José Menezes,que serviu muitissimamente bem à Obra de Deus nessa cidade. Os estudos bíblicos estiveram a cargo do missionário Nels J. Nelson.
O primeiro templo (de madeira) foi construído no pastorado do irmão Morais. O segundo (de alvenaria), com o respectivo batistério, foi inaugurado em 24 de outubro de 1944; tinha capacidade para mais de 500 pessoas. Estiveram presentes à inauguração os pastores José Menezesjoão Queiroz, Deocleciano de Assis e Nels J. Nelson. O terceiro templo seria construído pelo pastor José de Souza Reis.
São os seguintes os pastores que serviram à Assembléia de Deus em Manaus: Samuel Nystrõn,Manoel da Penha,José Paulino Estumano de Morais (que serviu em três períodos diferentes), Manoel Higino de Souza, Josino Galvão, José Menezes, José Floriano Cordeiro, José Bezerra Cavalcanti, José Marcelino da Silva, Deocleciano Cabralzinho de Assis, Francisco Pereira do Nascimento, João Pereira do Nascimento, João Pereira de Queiroz, Alcebíades Pereira de Vasconcelos, Otoniel Alves de Alencar e José de Souza Reis.
PENETRAÇÃO NAS SELVAS DEAUTAZ MIRIM

A mensagem pentecostal, de acordo com a ordem de Jesus Cristo, tem de ser leyada até os confins da terra. Assim sendo, o testemunho da verdade não podia ficar circunscrito às cidades; devia também penetrar nas selvas amazônicas. Essa verdade foi bem compreendida pela Assembléia de Deus em Manaus. E, assim, aqueles obreiros transpuseram rios e atravessaram ilhas para anunciar as Boas Novas nos mais remotos lugarejos da exuberante selva brasileira.
Indiscutivelmente, a Assembléia de Deus foi a pioneira na evangelização da Amazônia. Ela cumpriu cabalmente a sua missão mesmo sem dispor de recursos, lanchas, ou o apoio das autoridades. Mas aqueles homens simples e cheios de fé demonstraram que o Evangelho de Cristo deve e pode chegar até os confins da terra.
Em mais de quatro séculos de história, poucas igrejas lembra­ram-se de levar conforto espiritual às populações esquecidas nas margens dos rios amazônicos. Só as cidades atraíam os que se diziam religiosos; só onde houvesse civilização e conforto é que estes podiam ser encontrados. Mas depois que a mensagem pentecostal subiu os rios e povoou as ilhas, então a inveja, o despeito e o medo de perderem a influência fizeram com que alguns deles se fizessem presentes. Porém o pioneirismo já pertencia às Assembléias de Deus.
Em 1925,o Evangelho já havia chegado a Autaz Mirim. Antônio Matias Fernandez foi o primeiro a anunciar a mensagem de salvação nesse lugar. Ele pertencia a uma denominação evangélica, porém reconhecendo que havia outras bênçãos e promessas de Deus para o seu povo, desejou recebê-las. E, recebendo-as, quis que outros também desfrutassem delas.
Antônio Matias escreveu ao pastor José Morais, em Manaus, pe­dindo-lhe que fosse a Autaz Mirim orientar os novos convertidos e fundar o trabalho. O pastor Morais prontamente atendeu à solicitação. E, assim, em 1925, era estabelecida na casa do irmão Antônio Matias Fernandez numerosa congregação da Assembléia de Deus, tendo à frente o próprio irmão Matias.
O primeiro pastor de Autaz Mirim foi o operoso e fiel Antônio Tibúrcio Filho. Ficando na direção dos trabalhos de 1930 a 35, o pastor Tibúrcio construiu o templo que foi inaugurado em 1931- Eis mais alguns pastores que passaram por essa igreja: Telesforo Santana, Joaquim dos Santos e Tertuliano Valentim Barbosa.
MIRACOCRA

No pastorado de José Morais, a Assembléia de Deus em Manaus estabeleceu vários trabalhos no interior do Estado. Miracoera foi um deles. Durante visita que o pastor Morais fez a essa localidade, em 1925, fundou-se ali mais uma poderosa agência do Reino de Deus.
O primeiro culto nessa cidade foi realizado em casa do irmão Tomás, sendo este e sua esposa, Geraldina, os primeiros convertidos. Em 1930, era inaugurado pelo dirigente do trabalho, irmão Sérgio, o primeiro templo de Miracoera. Já o segundo templo seria erguido por Antônio Tibúrcio, que foi também o primeiro pastor local. O templo foi inaugurado em 16 de março de 1951, sendo a solenidade presidida pelo pastor Alcebíades P. de Vasconcelos, que se fazia acompanhar pelos presbíteros José Guedes dos Santos e José Rodrigues Muniz, e por outros irmãos da Assembléia de Deus em Manaus. Também serviram como pastor em Miracoera os irmãos Telesforo Santana, Joaquim dos Santos e Osório de Pinho.



MANACAPURU

Na região do Manacapuru,o Evangelho foi anunciado em 1932,num lugarejo chamado Marrecão. O presbítero Antônio Barroso, de Manaus, foi quem levou a mensagem a Manacapuru, sendo esta recebida por muitas almas que vieram a se converter a Cristo. O primeiro pastor a servir nessa vastíssima região foi o irmão Telesforo Santana, que lá esteve até 1936. Antônio Tibúrcio Filho também pastoreou essa Assembléia de Deus entre 1944 e 45.0 pastor Severino Herculano da Rocha substituiu o pastor Tibúrcio, aí ficando até 1957, data em que faleceu. O pastor Benjamim Matias Fernandes veio logo a seguir.

ITACOATIARA
Foi o major Farias quem primeiramente anunciou a mensagem pentecostal em Itacoatiara. E o primeiro pastor a servir nessa impor­tante cidade foi Antônio Tibúrcio Filho, atendendo, com carinho, ao rebanho do Senhor.
Também exerceram o pastorado em Itacoatiara os seguintes ir­mãos: Antônio de Almeida José Marcelino José Henrique de Almeida e Francisco dos Santos Matias.
TABATINGA
(Rio Solimões)
Foi o esforçado pastor José Floriano quem iniciou a obra de evangelização em Tabatinga; e fê-lo de modo que esta jamais seria interrompida ou recuaria, pois esteve sempre em ascensão. O pastor Floriano transferiu-se mais tarde para Benjamim Constant, deixando o trabalho aos cuidados de Raimundo Pereira Garcia.
Em 1941, o pastor Antônio Tibúrcio assumiu o pastorado da igreja em Tabatinga. Depois veio o pastor Telesforo Santana. Logo em seguida viriam ainda mais dois pastores: Amaro Goes e José Henrique de Almeida.

PARINTINS

Apesar de outros lugares mais distantes terem sido alcançados pelo Evangelho, Parintins continuava a clamar. Mas finalmente chegou a sua vez. O trabalho aqui teve origem entre o povo humilde, mas pouco tempo depois conseguiu alcançar pessoas de outros níveis. Foram pastores da Assembléia de Deus em Parintins os seguintes obreiros: Manoel Nilo da Silva,João Francisco dos Santos e José Guedes dos Santos.






Mais cedo do que se supunha, a mensagem pentecostal, através da Assembléia de Deus, alcançou o extremo Norte do Brasil, fixando-se definitivamente nessas paragens. Rondônia, que já se chamou Guaporé, formou-se a partir de territórios cedidos pelos Estados do Amazonas e Mato Grosso.
Ao tempo em que os primeiros povoadores tocaram o extremo Norte, a região ainda desfrutava da fama, do prestígio e da riqueza provenientes da borracha. Mas a queda do látex acabaria por sepultar de vez o esplendor econômico daquelas vastidões.



PORTO VELHO

O ano de 1922 assinala a fundação da Assembléia de Deus na cidade mais importante da região que, naquela época, pertencia ao Amazonas: Porto Velho. A data de registro é 28 de fevereiro.
Entre os fundadores da Assembléia de Deus em Porto Velho estava um dos primeiros missionários vindos da América do Norte. Seu nome: Paul John Aenis. Não é um nome tão conhecido quanto o de outros missionários, pois ele trabalhou apenas alguns anos no Brasil. Porém sua atividade, no período em que serviu entre nós, acha-se assinalada em vários lugares. Paul Aenis ministrou em Porto Velho até 1924.0 primeiro batismo efetuado por Paul Aenis, naquele extremo Norte, foi de nove pessoas; o segundo, de 12. Aqui estão outros nomes que também aparecem como fundadores do trabalho em Porto Velho: José Marcelino da Silva, oriundo de Belém, e que mais tarde seria pastor dessa igreja; José Joaquim da Silva; Rosa Lucas da Silva e Maria da Conceição.
As atividades da igreja em Porto Velho logo se estenderam a outros lugares, não só aos centros populosos, como também aos seringais e às populações ribeirinhas. Entre os locais em que o trabalho se estabeleceu estão Boa Hora, Baixo Madeira, à margem do rio do mesmo nome; e Bom Futuro, um seringal às margens do Alto Madeira.
Em junho de 1944, o missionário Nels J. Nelson visitou a Assembléia de Deus em Porto Velho e dirigiu uma semana de estudos bíblicos. Para a igreja foi uma chuva em pleno verão. Os tempos de refrigério renovaram o ânimo do povo de Deus.
No ano de 1948 a Assembléia de Deus em Porto Velho hospedou a Convenção de Ministros e a Escola Bíblica, acontecimento que repercutiu na vida de toda a comunidade. O fato de haver 45 alunos matriculados na Escola Bíblica, numa igreja pequena e longínqua, é muito expressivo. Era uma prova de que a Obra de Deus estava viva e operosa.
A Assembléia de Deus em Porto Velho tem sido das mais favorecidas no que diz respeito à assistência espiritual. Desde sua fundação, sempre pôde contar com pastores de tempo integral. Serviram a esta igreja os seguintes obreiros: Paul Aenis (fundador) de
1922-24; Manoel César da Silva, 1924-28; José Marcelino da Silva, 1928
(seis meses); Januário Soares, 1928-30;José Marcelino da Silva, 1930-36; Manoel Pirabas, 1936-37; Raimundo Prudente deAlmeida, 1937-39; Juvenal Roque de Andrade, 1939-43; Francisco Vaz Neto, 1943-46; Joviniano Rodrigues Lobato, 1946-52; Benjamim Matias Fernandez, 1952-53; Leonardo Luz, 1953, data em que recolhemos estes informes.

GUAJARÁ MIRIM

Guajará Mirim, que também pertence a Rondônia, somente rece­beria o Evangelho algum tempo depois da fundação da Assembléia de Deus em Porto Velho. Embora a data de fundação do trabalho em Guajará Mirim tenha se verificado seis anos após a de Porto Velho, a mensagem pentecostal aqui já era conhecida bem antes dessa data. Ao oficializar-se a Assembléia de Deus, os arcanos apostólicos já ecoavam pelos quatro cantos de Guajará Mirim.
A data oficial do início das atividades da Assembléia de Deus em Guajará Mirim é 20 de maio de 1928. Entre os fundadores dessa igreja encontram-se Maria Fausta Ramos, Benvindo Ramos e Maria Salomão. Através dos novos convertidos, a igreja em Guajará Mirim levou a mensagem pentecostal aos lugares mais longínquos, porém estratégicos: Cachoeira do Madeira, na margem direita do rio Alto Madeira; Abunã; Núcleo Agrícola Presidente Dutra, E.F.M.M. e Forte Príncipe da Beira.
É elevado o número de obreiros que serviram à igreja em Guajará Mirim. Apesar de não possuirmos datas exatas, temos, porém esta expressiva lista, por ordem cronológica: Januário Soares; Ursulino Costa; Luiz Higino; Raimundo Almeida; Jorge Timoliom; Quirino Peres; José Marcelino da Silva; José Miguel Barros de Carvalho; Francisco Nascimento Garcia; João Evangelista de Albuquerque; Túlio Barros Ferreira; Hemetério Bertoldo Gomes; Francisco Nascimento Garcia (segundo período), e Abdias Pereira da Costa.
AMAPÁ

"O tempo, como sucessão de dias, é revelador das coisas como têm que ser, e obriga os anos a falar", assim se inicia a nota da qual extraímos as informações que sintetizam a História das Assembléias de Deus no Amapá.
No ano de 1916, Macapá era uma pequena cidade de pouco mais de mil habitantes; porém, era a mais importante da região. Poucas pessoas, por certo, se aperceberam de que, no dia 26 de junho daquele ano, chegara a Macapá um colportor com as malas cheias de Bíblias, folhetos e evangelhos. Somente alguns dias depois toda a cidade ficou sabendo da presença do evangelista, em razão de lhe haverem tomado os livros e os queimado em praça pública, como veremos a seguir.
O evangelista Clímaco Bueno Aza, então no verdor dos anos, e desfrutando o primeiro amor que Deus concede aos que aceitam a Cristo, havia chegado a Macapá na data acima citada com a finalidade de espalhar a Palavra de Deus. Ele queria deixá-la nas mãos do povo para que todos lessem as verdades da Bíblia. Clímaco Bueno Aza era um vocacionado evangelista e colportor. Onde quer que chegasse, não só distribuía a Bíblia, mas também pregava o Evangelho.
Os primeiros sucessos do irmão Clímaco em Macapá chegaram ao conhecimento do sacerdote, e este iniciou imediatamente uma perseguição ao evangelista. Aliciando pessoas de boa fé e pouco esclarecidas, o padre nivelou-se a reles arruaceiros, instigou os seus partidários a apedrejarem o colportor e a roubarem-lhe os livros para, em seguida, queimarem-nos em praça pública. O que eles consideravam um ato de heroísmo não passava de um ato covarde praticado contra um cidadão indefeso.
Foi assim que se iniciou a história da Assembléia de Deus em Macapá. Não pensem que o irmão Clímaco acovardou-se diante dos atos de um padre que não soube honrar o hábito que vestia nem dignificar a religião que representava. Algum tempo depois, Clímaco Bueno Aza realizou outra viagem a Macapá, sem que se registrassem incidentes dessa natureza.
O colportor Clímaco lançou a boa semente nas duas visitas que fez a Macapá, deixando ali algumas pessoas interessadas no Evangelho.

0 TRABALHO SC ESTABELECE
Entretanto, o privilégio de estabelecer o trabalho ali coube ao evangelista José de Matos, que antes percorrera várias cidades anun­ciando as Boas Novas. Ao iniciar-se o ano de 1917, o então evangelista José de Matos chegou a Macapá para dar início ao trabalho. Os primeiros meses foram difíceis para o evangelista. O padre recomeçou a perseguição, acusando José de Matos de ser espião, mas desta vez não conseguiu os resultados malignos que esperava.
Vinte e sete de junho de 1917 foi um dia de júbilo tanto no céu como em Macapá. Esse foi o dia em que as primeiras pessoas se converteram naquela cidade. No dia 30 do mesmo mês, o Senhor batizou a primeira pessoa com o Espírito Santo. Estava confirmada a obra; os inimigos não podiam impedi-la.
Foi no dia 25 de dezembro daquele mesmo ano que se efetuou o primeiro batismo nas águas dos cinco novos convertidos. Esse ato transformou-se em grande acontecimento, e teve repercussão em toda a cidade.Todos os judeus negociantes de Macapá compareceram ao batismo. No momento em que a irmã Raimunda Paula de Araújo saía das águas, foi batizada com o Espírito Santo. Ela falou em línguas estranhas com tanto poder que os assistentes encheram-se do temor de Deus.
Um dos judeus presentes, Leão Zagury, ficou tão emocionado e maravilhado com a mensagem que ouvira que não se conteve e clamou em alta voz no meio da multidão: "Eis que vejo a glória do Deus de Israel, pois esta mulher está falando minha língua". Em verdade, os anos não podem esconder tão eloqüente testemunho. O judeu não era crente. Porém Delis, através da irmã Raimunda, falou-lhe em hebraico.
Diante dessas vitórias que se tornaram públicas, os inimigos iniciaram nova campanha de difamação contra a igreja. Uma das pessoas batizadas era sifilítica em último grau. Algum tempo depois a sífilis atacou-lhe o cérebro, e os inimigos culparam os crentes pela doença. Foi uma prova de fogo para o pequeno rebanho, que imediatamente buscou refúgio e socorro aos pés do Senhor. Porém, ao fim de algum tempo, Deus curou aquele homem. Toda a cidade soube que Paulo Araújo, o enfermo, estava completamente são.
A Assembléia de Deus em Macapá, com a saída de José de Matos, ficou sob a jurisdição da Assembléia de Deus em Belém que, de tempos em tempos, enviava missionários e pastores com a mensagem viva do Evangelho. Macapá recebeu várias vezes a visita dos missionários Samuel Nystrôn, Daniel Berg e Nels J. Nelson, e também dos pastores Crispiniano Melo, José Felinto, José Morais,Amaro Morais, Francisco
Gaspar, Francisco Vitor,Apolinário Costa, José Laurêncio, Joviniano Lobato e Januário Soares.
Os primeiros pastores residentes ali foram Flávio e João Alves, que construíram a casa de oração e a residência pastoral. No ano de 1948, no dia primeiro de abril, a igreja recebeu como pastor Deocleciano de Assis. Durante o pastorado desse irmão, com a presença do missionário Nels Nelson, foi lançada a pedra fundamental do templo.
O pastor José Pinto de Menezes, no mês de abril de 1954, substituiu o pastor Deocleciano por alguns dias, até a chegada do pastor Vicente Rego Barros, que se deu no dia nove do referido mês. Deus confirmou o ministério do pastor Vicente Rego Barros, pois ao fim de quatro meses ele realizou o batismo de 25 novos convertidos, o maior na história da igreja até aquela data.
Com a chegada do novo pastor, a igreja empenhou-se muito mais no trabalho, e todos os membros uniram-se no intento comum de amar e servir ao Senhor Jesus. Oito meses após a chegada do pastor, a igreja contava com o dobro do número de membros, tornando-se também responsável pelo trabalho de evangelização em vários lugares.



RIO BRANCO - BOA VISTA

Com a fundação da Assembléia de Deus na cidade de Boa Vista, território do Rio Branco, completou-se em todas as capitais de Estados e territórios a introdução da mensagem pentecostal. Boa Vista foi a última capital a ter oficialmente sua igreja organizada, uma igreja que crê e prega a fé apostólica.
Muito embora o Evangelho desde há muito viesse sendo anunciado por irmãos que, ocasionalmente, iam a Boa Vista ou por ali transitavam, o registro oficial da instalação da Assembléia de Deus data de nove de setembro de 1946.
De acordo com o registro oficial, o trabalho de pregação do Evan­gelho em Boa Vista foi iniciado por Vicente Pedro da Silva, que tinha a auxiliá-lo e a encorajá-lo alguns irmãos, inclusive novos convertidos. Entretanto, Vicente Pedro não era obreiro separado para o ministério, não podendo, portanto, dar cunho oficial ao trabalho. Por esse motivo aqueles irmãos resolveram escrever para algumas igrejas em outras cidades, contando o que Deus estava fazendo ali, e expressando o desejo de que Deus enviasse um pastor. Finalmente, no ano de 1946, o pastor Quirino Pereira Peres sentiu o desejo de servir ao Senhor em Boa Vista.
Foi a resposta às orações dos novos cristãos que não cessavam de orar nesse sentido.
Logo que chegou, o pastor Quirino alugou um salão na Rua Cecília Brasil, para realizar os cultos que até então se efetuavam em casas particulares. Essa medida deu novo impulso ao trabalho, que desde então entrou em franco progresso.
Conforme já mencionamos nas linhas acima, Quirino Peres presidiu a instalação da Assembléia de Deus na cidade de Rio Branco no dia nove de setembro de 1946. Nesse dia, conforme consta da ata, Quirino Peres batizou nas águas os novos convertidos Raimundo Bispo de Souza e José Peres de Lima. Também figuram na ata de fundação, entre outros, os seguintes nomes: Vicente Pedro da Silva; Honório Amorim Teixeira; Raimundo Gomes da Silva; José Pereira de Lima; Maria Amaral Peres; Francisco Saraiva; Raimundo Bispo e Alberto M. de Albuquerque.
O trabalho do Senhor em Boa Vista não é uma exceção no panorama geral das perseguições que sempre se observaram no início da obra em toda parte. Boa Vista também pagou seu tributo às perseguições. Porém a vitória foi e sempre será do Senhor. A Assembléia de Deus em Boa Vista inaugurou seu templo no dia 18 de maio de 1954.
Como dissemos acima, seu primeiro pastor foi Quirino Pereira Peres, permanecendo até 1950, quando foi substituído pelo pastor Otoniel Alves de Alencar. O templo que atualmente serve à Assembléia de Deus também tem a sua história: o terreno foi adquirido no pastorado de Quirino Peres, que nele construiu uma casa de palha; ali realizaram os cultos. No pastorado de Benjamim Fernandes foi iniciada a construção do templo, continuada no pastorado de Joviniano Lobato, e concluída pelo pastor Samuel Cavalcante. A casa pastoral foi adquirida no tempo do pastor Joviano Lobato.
Õ trabalho começou a estender-se pelo interior do território durante o pastorado de Benjamim Fernandes. Isto ocorreu logo após a chegada de colonos vindos do Maranhão, que fundaram a Colônia Mucajaí, onde foi estabelecida a primeira igreja.
ACRE-CRUZEIRO DO SUL

Cruzeiro do Sul era a capital do então vasto território do Acre. Como não podia deixar de ser, a mensagem pentecostal foi anunciada primeiramente em Cruzeiro do Sul.Todavia, não são abundantes as informações sobre as atividades dos primeiros voluntários do trabalho de Cristo naquela cidade. Contudo, em 1932 assinala-se a passagem do dinâmico pregador Manoel Pirabas. Mais tarde vamos encontrar esse irmão servindo à igreja em Porto Velho, no período de 1936-37. Por conseguinte, a Assembléia de Deus em Cruzeiro do Sul tem como fundador, em 1932, Manoel Pirabas.
A mensagem pentecostal foi levada sem perda de tempo a outras localidades do território. Estabeleceram-se congregações que manti­nham estreitas relações com a capital. O trabalho cresceu, mas também teve de enfrentar perseguições por parte de quem não ama a verdade e não tem prazer no Evangelho de Cristo. Como resultado do progresso da Obra Pentecostal nos territórios, a Assembléia de Deus em Cruzeiro do Sul hospedou, em 1950, a primeira Convenção dos Territórios, ou Territorial, que reuniu os obreiros da vastíssima área do extremo Norte.
A seguir, em 1952, ainda em Cruzeiro do Sul, realizou-se a primeira Convenção do Acre. Nesse ano, a Assembléia de Deus em Cruzeiro do Sul inaugurou também o seu templo. Assinala-se, também, na Assembléia de Deus em Cruzeiro do Sul, a assistência espiritual e a dedicação pastoral dos seguintes obreiros: Manoel Pirabas, Antônio Tibúrcio Filho, Pedro Domingos,João Queirós, Otoniel Alencar, Fran­cisco Nascimento, José Rufino, Antônio Prudente de Almeida e Fran­cisco Batista da Silva.

TARAUACA

' O testemunho da fé pentecostal alcançou essa cidade no mês de fevereiro de 1935.0 pregador da mensagem divina chamava-se Bento Sameu, e anunciava a Palavra de Deus com autoridade divina. Os primeiros frutos da pregação do irmão Bento foram uma menina de sete anos e uma adolescente de 16, que se tornaram membros fiéis daquela igreja.
Deus abençoou o trabalho, fê-lo prosperar até ele se transformar em igreja forte e fiel. Bento Sameu foi substituído pelo presbítero Lino; o terceiro responsável pelo trabalho foi o pastor Manuel Araújo, e o quarto José Caetano Alves, evangelista esforçado que se dedicou à Obra do Senhor no território do Acre.






Foi np ano de 1921 que Deus enviou a mensagem pentecostal ao Estado do Maranhão. O trabalho teve início na capital do Estado — cidade de São Luiz. Procedente do Estado do Pará, a mensagem pentecostal foi trazida ao Maranhão pelo pastor Clímaco Bueno Aza, cidadão colombiano que se convertera ao Evangelho em Belém, e ali fora ordenado ministro do Evangelho em 10 de março de 1918. O irmão Clímaco foi o instrumento que Deus usou como pioneiro do Movimento Pentecostal em terras maranhenses;
O primeiro culto pentecostal celebrado no Maranhão teve lugar na casa de n° 149 da Rua Sete de Setembro, de propriedade de Propécio
Lobato, e foi oficiado pelo pioneiro pastor Clímaco Bueno Aza.
Após intenso e persistente serviço de evangelização e distribui­ção das Escrituras Sagradas de porta em porta na velha "Atenas Brasileira", foi oficialmente fundada e organizada a primeira Assembléia de Deus nesse Estado, mediante o batismo de alguns novos convertidos e a celebração da Ceia do Senhor. Por lamentável omissão, não há registro oficial da data, nem do número de batizandos que integrou o rol de membros da novel igreja, e, embora sobrevivam nesta data (23/11/1957) ainda duas senhoras que foram então batizadas, todavia esqueceram por completo a referida data.
PRIMEIRAS CONVERSÕES
Os primeiros conversos do Maranhão à fé pentecostal foram Propécio Lobato e sua esposa, Ana Athan Lobato. O irmão Propécio Lobato veio a ser o primeiro diácono consagrado pela Assembléia de Deus no Maranhão, e faleceu em sete de julho de 1955.
O primeiro salão alugado para a sede da novel igreja, onde a mesma foi oficialmente organizada, estava situado na casa de n° 474, na Rua Dr. Herculano Parga, em São Luiz. Foi aí também que se verificou o primeiro batismo com o Espírito Santo no ano de 1924, quando passaram por essa experiência os irmãos Propécio Lobato, Izabel Florestal Rodrigues e a irmã Maria Oliveira.

PRIMEIRAS PERSEGUIÇÕES
Foi em conseqüência da manifestação do poder de Deus que se verificou a primeira perseguição ao trabalho da Assembléia de Deus no Maranhão. E deu-se da seguinte maneira:
Atraídas pelo ruído das vozes dos que oravam, várias pessoas se aglomeraram em frente à casa de cultos. Entre essas pessoas estavam vários estudantes, que logo começaram a atirar pedras sobre o local onde os irmãos estavam reunidos. Por estarem nas proximidades do quartel da Polícia Militar do Estado, resolveram denunciar os irmãos. O comandante da referida corporação quis agir contra os crentes, mas mudou de idéia após ouvir as explicações do então sargento Paulino Flávio Rodrigues, que,.por ser membro da referida igreja, responsabilizou-se pelos crentes.
Desse modo foi contido o primeiro assalto satânico contra os verdadeiros e humildes servos de Deus, que o glorificavam em "espírito e em verdade". O sargento Paulino seria promovido anos mais tarde a tenente-coronel da Polícia Militar do Maranhão. Ele também seria separado ao ministério pastoral, tornando-se um dos obreiros mais conhecidos do Brasil.

SUCESSÃO NO PASTORADO
Em 1922 Clímaco Bueno Aza foi substituído na liderança da igreja pelo pastor Manoel da Penha, que serviu fielmente ao Senhor até o ano de 1927, quando passou para a eternidade na paz dos justos. Foi um grande e fiel obreiro que muito se resignou pela causa do Evangelho. Em São Luiz sofreu, além da perseguição dos católicos, grande oposição dos evangélicos, e toda sorte de privações devido à precariedade de recursos do trabalho.
Com a morte de Manoel da Penha, Nels J. Nelson, missionário do campo, assumiu o pastorado da igreja em São Luís. Ainda em 1927 assumiu a direção da igreja em São Luiz o pastor Manoel César, que trabalhou incansavelmente até 1932. Foi em seu pastorado que a igreja planejou construir o primeiro templo, mas não pôde levar a idéia avante por causa de problemas financeiros. Nessa época, á igreja adquiriu personalidade jurídica.



PRIMEIRA CONVENÇÃO NO ESTADO

Ao se retirar do pastorado da igreja em São Luiz, Manoel César foi substituído pelo pastor Luiz Higino de Souza, que serviu à referida igreja até o ano de 1935. No seu pastorado teve lugar a primeira Convenção Regional das Assembléias de Deus no Maranhão, que se realizou no mês de novembro de 1934, na cidade de Coroatá.
Com a presença de dois pastores, dois diáconos e vários auxi-liares, instalou:se a referida convenção no dia 15 de novembro desse ano. Por sua deliberação, foi ordenado ao ministério da Palavra o primeiro obreiro pela Assembléia de Deus no Maranhão, recaindo a eleição na pessoa do irmão João Jonas, cidadão húngaro, convertido ao Evangelho no Brasil. Sua ordenação teve lugar na noite de 20 de novembro de 1934, quando eram encerrados os trabalhos convencionais.
Em outubro de 1935, ainda no pastorado de Luís Higino de Souza, realizou-se a segunda Convenção Regional, que se reuniu em Pedreiras, Maranhão, e contou com a presença de três pastores, quatro diáconos e vários auxiliares. Para servir à igreja em Dom Pedro, a convenção designou o diácono Agostinho Ribeiro.
Em novembro de 1935,Luís Higino de Souza deixou o pastorado da igreja, sendo substituído por Januário Norberto Soares, que trabalhava em Pedreiras, no interior do Estado. Este serviria à igreja até princípios de 1937, quando, por sua vez, seria substituído pelo pastor José Bezerra Cavalcanti. Antes, porém, de se ausentar do cargo, atendendo à grande necessidade do trabalho no município de Viana, o pastor Januário N. Soares, juntamente com o missionário Nels J. Nelson, procedeu a ordenação do segundo ministro da Assembléia de Deus no Maranhão — o presbítero Francisco Moisés Garcia, que foi solenemente ordenado na noite do dia oito de fevereiro de 1937, para servir à igreja na região da Baixada Maranhense.
Assumindo a liderança da igreja em São Luiz, o pastor José Bezerra Cavalcanti, como exímio construtor que era, pensou logo em dotar a igreja de um templo digno de sua posição e do nome de Deus, e que viesse a libertá-la dos epítetos e achincalhes que seus gratuitos opositores lançavam. Para isso organizou um croqui da fachada, que chegou a ser utilizado em parte, e fez uma grande campanha para aquisição de fundos.
Sob o pastorado de José Bezerra Cavalcanti, teve lugar a ordenação do terceiro ministro pela Assembléia de Deus no Maranhão. Tratava-se do pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, ordenado na noite do dia três de março de 1938. O concilio estava constituído dos pastores José Bezerra Cavalcanti, Manoel César, João Jonas e Moisés Garcia. Doente e esgotado pelas grandes lutas do trabalho, o pastor José Bezerra Cavalcanti sucumbiu às mesmas, passando para Jesus na cidade de Itapicuru-Mirim, Maranhão, no ano de 1939, onde estava em repouso por alguns dias.

A PRIMEIRA ESCOLA BÍBLICA
Como missionário do campo, assumiu interinamente o pastorado da igreja em São Luiz o irmão Nels J. Nelson e, como tal, presidiu a primeira Escola Bíblica realizada no Maranhão, que se reuniu com a igreja em Coroatá, simultaneamente com a terceira Convenção Regional na data de 1 a 13 de novembro de 1939, contando com a presença de três pastores do Estado, alguns presbíteros, diáconos e auxiliares. Nessa ocasião estudou-se a Epístola aos Filipenses e a doutrina das Dispensações Bíblicas sob a direção do missionário Nels J.
Nelson, auxiliado pelo pastor José Teixeira Rego, da Assembléia de Deus em Fortaleza, Ceará.
Nessa ocasião foram separados como ministro do Evangelho o presbítero Agostinho Ribeiro,para servir à igreja a Itapicuru-Mirim, e para evangelistas os irmãos Hilário Pereira da Silva,para Pau-de-Estopa, Feliciano de Matos Neto, para Rosário, e Ercílio Dias, para Arari. Na mesma convenção foi criada, por consenso geral dos obreiros, a "Caixa de Evangelização da Assembléia de Deus no Maranhão", a ser mantida pelos dízimos dos obreiros e ofertas voluntárias das igrejas, entidade que ainda subsiste, realizando muita coisa de real valor em favor da difusão do Evangelho no Maranhão e Piauí.
Em 1939 o missionário Nels J. Nelson passou a direção da igreja em São Luiz ao pastor Deocleciano Cabralzinho de Assis, a quem Deus usou maravilhosamente para reavivar a igreja na capital maranhense, e presidir a construção do primeiro templo pentecostal da referida cidade, que foi solenemente inaugurado na data de 21 de setembro de 1941.
Em 1940 teve lugar uma semana de estudos bíblicos e Convenção Regional em Pedreiras, Maranhão, sob a presidência do irmão Nelson, coadjuvado pelo pastor José Teixeira Rego, de Fortaleza, Ceará. Nessa reunião foi consagrado mais um pastor, o presbítero Joaquim Pereira da Costa, para servir ao campo da região sertaneja do Estado, com sede na vila de Leandro, no município de Barra do Corda.
Abrindo mão do pastorado da igreja em São Luiz para atender ao convite que lhe fizera a igreja em Manaus, Amazonas, o pastor Deocleciano C. de Assis passou a direção da igreja em caráter interino ao pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos da igreja em Coroatá, no interior do Estado. E este,após alguns dias, passou a liderança dos trabalhos ao pastor eleito pela igreja, Francisco Pereira do Nascimento, que ficou em São Luiz durante apenas sete meses, pois, convidado pela igreja de Belém do Pará, resolveu aceitar o convite.
A direção da igreja foi passada então para o pastor José Leonardo da Silva, que, por sua vez, demorou-se apenas um ano, sendo substituído pelo pastor Francisco Pereira do Nascimento, que voltou a apascentar a igreja de São Luiz, de julho de 1943 até 1944.
Em 1944 o pastor Francisco Pereira do Nascimento, atendendo ao convite da igreja em Manaus, Amazonas, deixou o pastorado da igreja a cargo de José Ramos, que o ocupou até o ano de 1947, quando foi substituído em caráter interino pelo pastor José Teixeira Rego, que se demorou alguns meses apenas. Foi no pastorado de José Ramos que a igreja se viu na contingência de aumentar o seu templo, que já estava pequeno para abrigar o grande número dos fiéis.
Em 1948 José Teixeira Rego foi substituído pelo pastor José Pinto Menezes, que serviu à igreja de São Luis sob sua direção até fins de 1952. Foi em seu pastorado que, num rasgo de fé, a igreja resolveu construir a sua Casa Pastoral, que tantos benefícios trouxe à,s finanças da igreja.
Atendendo ao convite que lhe fez a igreja de Belém do Pará para servir como co-pastor, José Pinto de Menezes mudou-se para lá, sendo substituído interinamente pelo pastor Francisco Moisés Garcia, que, após 15 dias, passou a liderança, no dia 16 de janeiro de 1953, ao pastor eleito pela igreja, irmão Alcebíades Pereira de Vasconcelos. Ao assumir, procedeu a um criterioso levantamento estatístico da mesma, constatando a existência em comunhão na igreja-sede do trabalho no Estado do Maranhão de um total de 260 membros.
Procurando conhecer a vontade de Deus a seu respeito, e qual a missão que o Senhor lhe dera na igreja em São Luiz, o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos reconheceu que Deus o enviara ali com a missão específica de iniciar e presidir a construção de um novo templo-sede da igreja em São Luiz, por dois motivos: Io) O antigo templo estava demasiado pequeno para abrigar os crentes, e 2o) Estava de tal modo arruinado em sua estrutura, que ameaçava ruir a qualquer momento. Resultado: despertada a igreja e encorajada a iniciar a árdua tarefa, a ela todos se entregaram de corpo e alma. Começando a construção no dia 7 de dezembro de 1954, o templo foi inaugurado solenemente em 7 de dezembro de 1956 — uma grande vitória para a causa da igreja e de Deus na capital maranhense.
Concluindo que era impossível trabalhar sozinho em São Luiz devido à falta de auxiliares locais que cooperassem na direção dos cultos, e sendo obrigado a viajar, periodicamente, pelo interior do Estado do Piauí, em visitas de confraternização e reuniões de estudos bíblicos, o pastor Alcebíades declarou ao presbítero da igreja a necessidade de alguém ser apontado como seu auxiliar. O presbítero, depois de considerar a questão, aconselhou o pastor a convidar um obreiro para essa honrosa função. Isto foi feito em novembro de 1953, quando se reuniu com a igreja em São Luiz a Convenção Regional do Estado, assistida pelos obreiros do campo piauiense.
Nessa ocasião foi convidado oficialmente pela igreja o pastor Estêvão Ângelo de Souza, que trabalhava em Luzilândia, Piauí, para servir como co-pastor à igreja em São Luiz. O pastor Estevam aceitou e foi empossado no dia 4 de janeiro de 1954. A cooperação desse jovem pastor nos serviços da igreja e na construção do templo trouxe resultados que só a eternidade poderá revelar plenamente.
Por sugestão do pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, foi criada pela Convenção Regional do Maranhão uma instituição de beneficência cristã destinada a servir aos obreiros velhos e às viúvas dos obreiros falecidos. A "Caixa de Beneficência e Socorro dos Pastores e Evangelistas" da Assembléia de Deus nos Estados do Maranhão e Piauí foi criada no dia 5 de novembro de 1933, conforme consta da ata da 7a sessão da Convenção Regional da Assembléia de Deus no Maranhão, e teve a sua primeira diretoria composta pelos seguintes irmãos: presidente, pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos; vice-presidente, pastor Raimundo Prudente de Almeida; fiscal de contas, pastor Francisco Assis Gomes, e secretário-tesoureiro irmão Walter Cerisk Mendes Ribeiro, sendo aprovados na mesma convenção os estatutos da novel sociedade beneficente.
No mês de janeiro de 1957, considerando a grande necessidade de uma escola primária para os filhos dos crentes da Assembléia de Deus em São Luiz, o pastor Alcebíades entrou em contato com a professora Antônia Costa, membro da igreja, que sendo dona de uma escola primária, resolveu passar gratuitamente os seus direitos sobre a mesma para o patrimônio da igreja, o que foi aceito com alegria. Reorganizada a referida escola, foi-lhe dado o nome da "Escola Bueno Aza" em homenagem ao pioneiro do trabalho pentecostal no Maranhão. Ficou estabelecido que a referida escola ministraria o curso primário e o exame de admissão ao ginásio. Logo no princípio do ano letivo de 1957, essa escola passou a funcionar com mais de 200 alunos.
Em dezembro de 1955 o pastor Alcebíades propôs à igreja em São Luiz iniciar um serviço de evangelização pelo rádio. A proposta foi aceita, e imediatamente dois programas foram realizados naquele mesmo mês pela Rádio Ribamar Ltda, de São Luiz. Em seguida a igreja assinou um contrato com a Rádio Timbira, do Maranhão, para a realização de um programa semanal aos sábados, que passou a ser levado ao ar com muita aceitação a partir de janeiro de 1956. .
Em 19 de novembro de 1957 o pastor Alcebíades Pereira de Vas­concelos aceitou o convite feito pela Assembléia de Deus sediada no campo de São Cristóvão, 338, no Rio de Janeiro, para que ele assumisse sua liderança.A direção da igreja em São Luiz foi entregue ao pastor Estevam Ângelo de Souza no dia 16 de dezembro do mesmo ano, e a igreja imediatamente o confirmou como substituto do pastor Alcebíades.



A DIFUSÃO DOTRABALHO NO INTERIOR MARANHENSE

O primeiro ponto alcançado pela mensagem pentecostal no interior maranhense foi o lugar denominado Ibaçá, no município de Viana. O Evangelho chegou ali de um modo quase involuntário. A irmã Raimunda Aragão, que fora batista antes de passar para a Assembléia de Deus em São Luiz, tendo parentes no referido lugar, foi até ali fazer-lhes uma visita. Aproveitando a oportunidade, ela testificou de Jesus aos seus parentes como Salvador pessoal. A mensagem foi bem aceita por todos. Iniciou-se ali um trabalho, uma semente que germinaria, cresceria e se transformaria em uma árvore de frutos abundantes, que ainda hoje se propagam aos milhares por todo o Estado, em conformidade com o ensino de Jesus na parábola do semeador (Mt 13.1-23). Isto ocorreu no ano de 1923-A primeira pessoa a aceitar a Cristo em Ibaçá e a ser batizada com o Espírito Santo foi a irmã Margarida Gomes da Silva.
Está escrito que "Todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados por seu decreto" (Rm 8.28). Dessa forma, assim como o decreto de César Augusto (Lc 2.1-7) contribuiu, indiretamente, para o cumprimento da profecia de Miquéias 5.2, fazendo com que José e Maria se deslocassem de Nazaré da Galiléia para Belém na Judéia, ocasião em que Jesus ali nasceu, do mesmo modo o Governo do Estado do Maranhão, através de sua Chefatura de Polícia, muito contribuiu para a difusão da mensagem pentecostal pelo interior do Estado.
Os fatos ocorreram da forma que passamos a relatar. No último culto dirigido por Clímaco Bueno Aza, em São Luiz, converteu-se a Cristo um sargento da Polícia maranhense de nome Paulino Flávio Rodrigues, que mais tarde foi promovido a segundo tenente. Esse irmão foi mandado como delegado especial para o município de Viana e para lá levou a mensagem pentecostal. Encontrando acolhida entre os presbiterianos independentes existentes naquele município, no lugar denominado Sacaitaua, falou-lhes do batismo com o Espírito Santo.
Tendo alguns deles aceitado a doutrina (entre eles o presbítero dirigente, irmão Francisco Moisés Garcia), foi organizada ali oficialmente a primeira congregação da Assembléia de Deus no interior do Estado, tendo como pastor Manoel da Penha, líder da igreja em São Luiz. Foi ali também que se registrou o batismo da primeira pessoa com o Espírito Santo no interior do Estado. Por sua vez, o irmão Francisco Moisés Garcia tornou-se o primeiro dirigente pentecostal maranhense no interior daquele Estado.
Transferido para a delegacia especial de Grajaú, no sertão do Estado, ali Paulino F. Rodrigues pregou o Evangelho e recebeu adesão dé vários membros da Igreja Batista Livre, fundando uma florescente igreja, que progrediu e se estendeu pelo interior do município em várias pequenas congregações. Como tivesse de regressar à capital, o irmão Paulino escreveu ao ministério da igreja em Belém do Pará, pedindo um pastor para ficar à frente daquele rebanho. Em resposta, foi enviado o pastor Januário Norberto Soares, que serviu em Grajaú por alguns anos.
Mais tarde, nomeado prefeito da cidade de Pindaré-Mirim, Paulino F. Rodrigues também fundou o trabalho da Assembléia de Deus naquele município. Desse modo, sem qualquer missão de cofres abertos para enviar e sustentar obreiros para o interior, o trabalho contou com a cooperação indireta do Governo do Estado para a sua propagação no interior, pois além do irmão Paulino, o tenente Leocádio Melo nesse tempo também aderiu à Assembléia de Deus e cooperou na evangelização de outros municípios do Maranhão. Graças a Deus.
Outra grande cooperação veio da parte do irmão Ludgério Bispo de Souza. Ele foi o elemento usado por Deus para levar a mensagem aos muitos povoados do vale do rio Mearim, zona grandemente perigosa devido ao cangaceirismo que ali imperava então, onde a justiça era o facão "colins" e o "rifle". Mas Deus o guardou e deu-lhe forças para testificar e conseguir iniciar uma obra que ainda perdura como um testemunho vivo da fé evangélica.
Em 1932, sentindo o peso do trabalho que aumentava e se estendia pelo interior do Estado, e estando sozinho nesta área e incapacitado de atender ao trabalho da capital e do interior ao mesmo tempo, o pastor Manoel César convidou o pastor Januário Soares, da igreja em Grajaú, no Sertão do Estado, para se encontrarem na cidade de Pedreiras a fim de conversarem sobre as conveniências do trabalho. Nessa conversa ficou resolvido que o pastor Januário N. Soares se mudaria de Grajaú para
Pedreiras e atenderia às duas igrejas. Porém, como era grande a distância entre as mesmas, ele mandaria um dos diáconos da igreja em Pedreiras para supervisionar a igreja em Grajaú até que Deus provesse um pastor para dirigi-la.
Mas não foi assim que aconteceu. O pastor Januário N. Soares foi residir em Pedreiras; mas, nenhum dos diáconos da igreja ali quis residir em Grajaú. Como resultado, o trabalho ficou aos cuidados de um jovem inexperiente, e que não era batizado com o Espírito Santo. Por esse motivo, quando apareceu por lá um missionário inglês, conseguiu facilmente perverter a fé pentecostal daquele jovem e com ele toda a igreja em Grajaú. Escaparam somente as congregações do interior do município que, tendo à frente os destemidos irmãos Claro Gomes, Manoel Rodrigues e Alexandrino Gomes, resistiram firmes na fé às investidas daquele senhor.
Foram esses corajosos irmãos que mantiveram firmemente o trabalho no Sertão maranhense,de 1932 até I937,quando receberam a primeira visita de um pastor, o incansável irmão João Jonas, que lhes estendeu a mão e os ajudou.
Em 1933 a seara maranhense recebeu a colaboração do dinâmico e extraordinário obreiro João Jonas, de nacionalidade húngara, porém convertido no Pará e batizado em águas pelo saudoso pastor José Floriano Cordeiro, no Amazonas, onde também recebeu o batismo com o Espírito Santo. Sentindo a chamada de Deus para trabalhar no Maranhão, ali chegou ele com carta de recomendação do pastor José Bezerra Cavalcanti, então pastor da igreja em Manaus, Amazonas, e apresentou-se aos pastores do campo maranhense Luiz Higino de Souza e Januário Norberto Soares, ficando resolvido que lhe dariam a oportunidade de trabalhar sob os cuidados do pastor Januário N. Soares, tendo por centro de suas atividades a vila de Pedro II, atual município de Dom Pedro, no Maranhão.
A ida de João Jonas para esse trabalho foi uma resposta de Deus à oração da fé, como veremos a seguir. A irmã Maria José de Melo, membro da Igreja Batista Livre, em Dom Pedro, aceitara a fé pent ecos tal e se tornara pregadora voluntária da mensagem. Graças ao seu testemunho, várias pessoas aceitaram a Jesus como Salvador, e um pequeno grupo de novos convertidos passou a se reunir naquela vila. A irmã Maria José era quem lhes ministrava a doutrina bíblica. Porém, vendo o pequeno rebanho ser assediado pelos pregadores da I.B.L.,aquela irmã quase não tinha mais tempo de se dedicar às suas ocupações materiais. Ele vigiava incessantemente aqueles novos convertidos contra as astutas investidas dos referidos pregadores.
Diante disso, a irmã Maria José dobrou os joelhos e pediu ao Senhor que enviasse um pastor para aquele rebanho, um obreiro que pudesse dar todo o seu tempo em função daquelas almas e cuidar das mesmas,para que nenhuma se extraviasse. Quinze dias após essa oração, Deus enviou o irmão João Jonas como resposta.
Na noite de 26 de julho de 1933, o irmão Jonas apresentou-se na nova região que lhe fora confiada pelo ministério do Estado. Naquela noite, com ele estavam o pastor Januário N. Soares è os auxiliares Francisco Assis Gomes, Ludgério Bispo de Souza, Cícero Oliveira e outros. Esses irmãos também realizaram o primeiro culto no povoado de Lagoa Nova, no município de Pedreiras. Nesse culto entregaram-se três pessoas, entre as quais o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos.
Em Dom Pedro o trabalho progrediu maravilhosamente sob a direção de João Jonas, havendo cultos em que se entregaram a Cristo mais de 40 pecadores. O fogo do reavivamento dominou os corações e se propagou pelas vizinhanças. Muitos crentes receberam o batismo com o Espírito Santo e logo começaram a ajudar o irmão João Jonas no serviço de evangelização, que atingiu logo os municípios de Codó, Caxias, Colinas e Barra do Corda. O irmão João Jonas recebeu a adesão de muitos membros da I.B.L., em São Domingos do Maranhão, onde foi organizada uma congregação que, poucos anos após, tornou-se sede de um florescente campo pastoral.
Com a transferência do pastor Januário N. Soares para a igreja de São Luiz, o pastor João Jonas ficou responsável por todo o trabalho no interland maranhense, compreendendo, já na época, 15 igrejas e suas muitas congregações em 12 municípios, com mais de 600 quilômetros entre os pontos extremos, distância essa que o pastor vencia no lombo de burro, quando não a pé, devido à precariedade do transporte na época.
Relatando assim o trabalho como o fazemos, parece até que no Maranhão a situação para os evangélicos sempre foi um "mar de rosas", sem qualquer perseguição ao Evangelho e aos evangelizadores. De fato, ali as perseguições sempre foram esporádicas. Porém, mesmo assim, de quando em quando se manifestavam. Por mais de uma vez os inimigos do Evangelho quiseram matar o pastor João Jonas e alguns dos seus auxiliares. Houve mesmo ocasiões em que o pastor foi impedido pelos crentes de dirigir o culto, a fim de lhe evitarem a morte, pois os ímpios o queriam trucidar. Mas Deus sempre deu a vitória aos seus servos.
Em .1938, o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos assumiu a direção da parte sertaneja do grande campo liderado pelo pastor João Jonas. Estabelecendo-se a sede do trabalho em Dom Pedro, o pastor Alcebíades passou a visitar todo o grande campo que lhe fora confiado.
Chegando à cidade de Grajaú no dia 21 de abril do mesmo ano, iniciou uma campanha de evangelização ao ar livre, todas as noites, juntamente com o dirigente da congregação local.
Nos primeiros dias de maio do mesmo ano, chegou àquela cidade, diretamente do Seminário em Roma, Itália, um frade brasileiro, natural do Ceará, de nome Ambrósio Maria, que foi constituído pároco da freguesia do bairro Trizidela, em Grajaú, onde estava sendo realizada a referida campanha de evangelização. Esse frade, cheio de zelo mortal característico de seus iguais, iniciou uma campanha anti-protestante como represália à campanha de evangelização. Durante suas investidas, usou um linguajar tão baixo que chegou a escandalizar os próprios católicos.
Observando que os evangélicos não revidavam aos seus baixos métodos de ataque, o frade atacou verbalmente o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos no dia 20 de maio, quando este palestrava com alguns amigos sobre o Evangelho em frente à casa onde o pastor estava hospedado. Esse ataque resultou em uma discussão pública que durou meia hora, e só terminou porque o frade não conseguiu responder às perguntas formuladas dentro da Bíblia pelo pastor. O frade retirou-se deixando alguns dos seus acólitos indignados por ele não ter vencido o protestante.
No dia 21, como acinte aos evangélicos e às leis do país, o referido frade acompanhado por outro frade italiano, queimou em praça pública vários exemplares da Bíblia Sagrada, Novos Testamentos e algumas porções bíblicas que estavam sendo distribuídas pelos evangélicos. Em fevereiro do ano seguinte (1939), o frade também apedrejou o pastor Alcebíades e os membros da Assembléia de Deus em Grajaú, quando estes estavam reunidos ao ar livre, na praça Adolfo Soares daquela cidade. O sacerdote estava acompanhado por mais de 200 pessoas, que o ajudaram a atirar pedras contra os poucos e pacíficos evangélicos, que nada fizeram em defesa própria.
Em maio de 1940, quando os membros da Assembléia de Deus, em conjunto com os da Igreja Cristã dirigidos pelos irmãos Otoniel Alves de Alencar e o missionário Ernest Wooton (inglês), estavam reunidos no mesmo lugar, um frade italiano de nome Camilo de Lonati convocou grande ajuntamento contra os servos de Deus, e mandou que estes fossem apedrejados e espancados. Os desordeiros quebraram a pauladas a mesa que servia de púlpito, o lampião que iluminava o salão de cultos.
Surraram dois irmãos já velhos, membros da Igreja Cristã, que morreram meses após em conseqüência das pauladas recebidas. A esposa do irmão Otoniel Alencar, que estava gestante, por pouco não sofreu sério acidente em conseqüência das pedradas e pancadas que recebeu. Que providências as autoridades tomaram? Nenhuma. A única coisa que aconteceu aos dois "fervorosos frades" defensores da fé romana foi serem removidos de Grajaú para continuarem a causar distúrbios em outros lugares do Brasil...
Em novembro de 1939 o pastor Agostinho Ribeiro se estabeleceu na cidade de Itapicuru-Mirim para dirigir a igreja local e pregar o Evangelho. Contra ele se levantou o padre Bacelar com tamanha fúria que chegou mesmo a invadir certo dia o salão de cultos com um grupo de fanáticos. Ameaçavam espancar o pastor e promover a dissolução dos trabalhos da igreja Assembléia de Deus.
O pastor Agostinho foi substituído pelo pastor Raimundo Prudente de Almeida. Mas o referido padre continuou a perseguir a Assembléia de Deus com tanta violência que obrigou o pastor a mudar a sede do trabalho para a vila (atual cidade) de Cantanhede, para a partir dali poder continuar os trabalhos de evangelização, longe dos atos de sabotagem daquele padre. Como resultado de tanta pertinácia e perseverança, hoje, tanto" em Grajaú como em Itapicuru-Mirim prega-se livremente o Evangelho, enquanto o padre Bacelar já foi prestar contas ante o supremo tribunal de Deus.
Em 1928, o tenente Paulino dirigiu o primeiro culto pentecostal em Pedreiras. Porém, somente alguns anos depois seria fundado o trabalho ali. Em 1930, estando como delegado de Polícia em Coroatá, o tenente Leocádio Melo, após se filiar à Assembléia de Deus em São Luiz, fundou em Coroatá o trabalho da Assembléia de Deus. No segundo semestre desse ano o irmão Leandro Ribeiro, presbiteriano, ouvindo falar do trabalho pentecostal em Coroatá, foi até lá e ouviu a referida mensagem. Em dezembro do mesmo ano recebeu ele o batismo com o Espírito Santo. No princípio de 1931, regressando a Pedreiras, fundou ali o trabalho da Assembléia de Deus, com grande aceitação por parte do povo daquela próspera cidade.
Naquele mesmo ano a igreja em Pedreiras recebeu a primeira visita do pastor Manoel César, de. São Luiz, que ao constatar ali um imenso acúmulo de serviços, passou a direção da novel igreja de Pedreiras ao pastor Januário Norberto Soares. Isto no segundo semestre de 1932.






Os primeiros movimentos dos mensageiros pentecostais em Teresina ocorreram no dia 8 de junho de 1927. Não sabemos ao certo se nessa época se realizaram cultos na capital do Estado, mas sabemos que a visita de Raimundo Prudente de Almeida a Teresina teve como objetivo anunciar a mensagem de Cristo, a mensagem pentecostal. Por essa razão é de supor que já nessa data houvesse algumas pessoas interessadas em conhecer o Evangelho de poder.
No ano de 1930 já havia um grupo de crentes pentecostais na cidade de Flores (hoje Timom), que fica na outra margem do rio Parnaíba,em frente a Teresina. A proximidade das duas cidades favoreceu o desenvolvimento do trabalho do Senhor em ambas.
Em 1932, Alfredo Carneiro, que voltara de São Paulo onde estivera servindo como sargento das Forças Armadas do Piauí, em combate ao movimento revolucionário, fez uma parada em São Luiz do Maranhão antes de rumar para o Piauí.
O pastor Manoel César, de São Luiz, mostrou a Alfredo Carneiro uma carta em que os irmãos da cidade de Flores pediam a visita do pastor. Sabendo que Alfredo Carneiro estava indo para o Piauí, o pastor César pediu-lhe que visitasse, em seu nome, aqueles irmãos.
Quando Alfredo Carneiro chegou a Flores encontrou os irmãos qual rebanho sem pastor. Na cidade de Teresina, naquele tempo, não havia crentes. Alfredo Carneiro sentiu então que Deus o chamava para assumir a liderança daquele trabalho. Pediu baixa do Exército e dedicou-se à obra de evangelização.
No ano seguinte, 1933, o pastor Manoel César visitou Teresina e Flores. Efetuou o batismo de oito novos convertido-se, nessa ocasião, por já haver crentes morando em Teresina, no dia 24 de novembro de 1933 realizou ali o primeiro culto. A partir dessa data os cultos passaram a ocorrer à Rua Campos Sales, na casa da família Sarmento. No ano seguinte, 1934, o pastor César visitou novamente Teresina e batizou um grupo de novos convertidos. Alguns meses depois Alfredo Carneiro adoeceu e foi para São Luiz, onde ficou seis meses.
Nesse período chegou a Teresina João Evangelista, do Rio de Ja­neiro, que ficou algum tempo com o pequeno rebanho em Flores. Ao fim de seis meses, Alfredo Carneiro voltou a Teresina para reassumir o trabalho, que havia sofrido com a sua ausência. Assim permaneceu dirigindo a congregação até o mês de junho de 1936, quando a Convenção realizada no Pará achou por bem que o pastor José Bezerra Cavalcanti fosse para o Piauí, como pastor do campo, ficando Alfredo Carneiro como evangelista.
No ano de 1936, no dia 17 de agosto, o pastor Francisco Bezerra Cavalcante fundou a Assembléia de Deus em Teresina, estando pre­sentes 28 pessoas. A ida do pastor Cavalcante para o Piauí aconteceu a pedido dos irmãos desse Estado, que fizeram essa solicitação à As­sembléia de Deus em Belém, Pará, e esta, por sua vez, apresentou o pedido à Convenção Regional, que indicou o pastor Bezerra.
A organização da igreja em Teresina deu-se no dia 7 de agosto de 1936, na casa n° 13 da Rua Olavo Bilac. A ata da organização está assinada por José Bezerra Cavalcanti e Leôncio Avelino Morais Sarmento. Foram eleitos, nessa ocasião José Nobre para servir como tesoureiro, e Demóstenes Ferreira para secretário. Na casa da Rua Olavo Bilac 13 realizaram os primeiros cultos públicos e oficiais, já que na Rua Campos Sales não tinham esse caráter. Ali funcionou durante vários anos até 27 de junho de 1947, data em que se transferiu para seu novo templo à Rua São Pedro 1286, que nesse dia fora dedicado ao serviço do Senhor.



Serviram à igreja em Teresina os seguintes pastores: José Bezerra Cavalcanti, Januário Soares, José Menezes, José Ramos e Armando Chaves Cohen.

PERIPERI

Periperi foi das primeiras cidades piauienses a receber a mensa­gem do Evangelho. As origens remontam ao ano de 1914, quando João Canuto de Melo comprou uma Bíblia em Coivaras. A partir daquela data João Canuto de Melo tornou-se o arauto da região, anunciando a mensagem de Cristo aos amigos, vizinhos e familiares. Como resultado dessas atividades, muitas pessoas aceitaram a Cristo e se transformaram também em evangelistas voluntários. Esses obreiros decididos passaram muitos anos sem receber a visita de um pastor ou evangelista. A única força que os impulsionava era a graça divina; a inspiração para falarem da salvação eles a encontravam na Bíblia,a Palavra de Deus.
Com a chegada do pastor Bezerra a Teresina, Alfredo Carneiro foi morar em Periperi, onde serviu com dedicação até o ano de 1939, retirando-se por motivo de saúde. De Periperi o testemunho foi levado a outras localidades, de modo que no tempo em que os obreiros visitaram o Piauí, já havia crentes em vários lugares.
A primeira visita de obreiros que receberam foi a de Alfredo Car­neiro; o pastor Manoel César, de São Luiz do Maranhão, parece que não chegou a visitar Periperi nas primeiras viagens que fez ao Piauí.
Da cidade de Periperi o testemunho pentecostal foi levado a Coivaras, Campo Maior, Parnaíba e a muitas outras localidades (cida­des) do Piauí.

PARNAÍBA

Os registros oficiais assinalam o ano de 1939 como o início das atividades das Assembléias de Deus em Parnaíba. Entretanto, sabe-se que antes dessa data Luiz Gonzaga, presbítero da igreja em Belém, realizou cultos em Parnaíba e fundou o trabalho em Luiz Corrêa, cidade que está situada próxima a Parnaíba.
Ainda de acordo com o registro oficial, o trabalho foi estabelecido em Parnaíba pelo pastor João Arlindo no dia 12 de dezembro da data acima mencionada. João Adindo fora enviado do Pará ao Estado do Piauí certamente a pedido de crentes já existentes em Parnaíba.
Menos de dois anos durou o pastorado de João Arlindo em Parnaíba, pois a 14 de agosto de 1941 chegava àquela cidade o pastor João Alves para substitui-lo. No período em que João Alves serviu em Parnaíba, a igreja prosperou e estendeu-se para as cidades vizinhas. Mas cresceram também a inveja e a perseguição contra o povo de Deus, de tal modo que João Alves e os que o acompanhavam chegaram a ser presos na Vila Magalhães de Almeida.
No dia 20 de janeiro de 1946 coube ao pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos substituir João Alves. A gestão do pastor Alcebíades durou oito meses, sendo o mesmo substituído pelo pastor Hilário Pereira da Silva, em 30 de setembro de 1946. Hilário Pereira serviu em Parnaíba até 7 de novembro de. 1948, sendo substituído pelo evangelista João Souza Araújo, que ficou ali até junho de 1949.
O pastor Otoniel Alves de Alencar foi o susbtituto de João Souza Araújo, e serviu até 9 de agosto de 1951. O substituto de Otoniel Alencar foi o pastor Antônio Simão,cujo pastorado foi de apenas 20 dias; sucedeu-o durante dois meses Antônio Maciel. Finalmente, a 28 de novembro de 1951, o pastor Paulino Flávio Rodrigues tomou posse na direção da igreja, em cujo cargo ainda permanecia em 1958.
PICOS

Alguém havia jurado que os protestantes não entrariam na cidade de Picos, nem por bem nem por mal. E claro que quem disse tal coisa foi um homem, e não o próprio Deus. Ora, todos sabem o que tem acontecido e acontecerá a quem se opõe às ordens divinas. Picos não foi das primeiras cidades do Piauí a receber a mensagem de Cristo. Foi quase das últimas. Porém, a história da fixação do Evangelho nessa cidade teve lances dramáticos, emocionantes, que envolveram indiretamente toda a população e terminou com a expulsão do padre que se julgava dono de Picos.
No mês de abril de 1944 Catarino Varjão e família chegaram à cidade de Picos com o objetivo de anunciar o Evangelho e convidar o povo a aceitar a salvação de Jesus Cristo. Até então ninguém tivera a coragem de pregar o Evangelho naquela cidade, pois todos sabiam o que aconteceria a qualquer protestante. Porém, Catarino Varjão foi para lá por ordem divina, e era com Deus que os inimigos iriam defrontar-se mais tarde, e não com Varjão.
Os primeiros cultos em Picos foram realizados na Rua do Baixio, e algum tempo depois também na Rua da Malva. As primeiras reuniões deixaram a população atônita. Agora havia protestantes na cidade. Por onde quer que Varjão passasse, o povo acorria para ver se protestante era gente como os outros. Onde parasse, era alvo de curiosidade. A cidade inteira tomou conhecimento da chegada dos protestantes.
Imediatamente as forças das trevas se movimentaram para evitar que a luz divina entrasse nas mentes e nos corações das pessoas. Chefiou a perseguição o padre Ariberto, que jurara não permitir a entrada de protestantes em Picos. Ao seu lado estava o secretário do prefeito.
Os perseguidores convenceram toda a população a perseguir e a matar, se necessário fosse. O barbeiro da cidade anunciou que cortaria a cabeça do protestante que entrasse no seu salão para fazer a barba. A cidade inteira sabia do fato, mas o irmão Varjão tudo ignorava.
No dia em que Varjão entrou na barbearia, o povo encheu a rua para ver o protestante morrer. Os demais fregueses começaram a ficar inquietos, porém Varjão calma e delicadamente falava com o barbeiro, sem compreender por que o povo se ajuntava cada vez mais. O barbeiro teve medo, pensou que o protestante estava a par de tudo e que talvez houvesse reação do próprio povo. Deus guardou o seu servo; estava ganha a primeira batalha. Só mais tarde alguém contou ao irmão Varjão que o povo se reunira para assistir à sua decapitação.
O dono da casa em que os cultos eram realizados recebeu ordem do padre para despejar os protestantes, o que ele fez constrangido, pois se não o fizesse seria perseguido também. Para não ficar na rua, Varjão comprou uma casa. Certamente o padre só foi informado do fato quando o negócio estava realizado, pois se tivesse ficado sabendo antes teria impedido o negócio.
Os fornecedores de pão, leite, legumes e outros gêneros foram proibidos de vender seus produtos à família Varjão. Os inimigos es­peravam vencer os servos de Deus pela fome. Porém, Deus cuidava deles. Os novos convertidos, sabedores dessa resolução, mandavam os filhos pequenos, que não eram suspeitados, a levar mantimentos à casa do pregador.
Cortaram o fornecimento de água, porém dentro de um cesto, à noite, as moringas de água fresca chegavam à casa da família sitiada.
Apesar da perseguição do padre, o número de convertidos au­mentava. Esse fato irritava o mau sacerdote. Porém, as pessoas cultas da cidade, vendo a deslealdade e a covardia do padre e seus seguido­res contra pessoas 'indefesas e ordeiras e de bem, passaram a simpa­tizar com a causa do Evangelho.
O fiscal da prefeitura convidou Varjão para realizar um culto na sua casa para as pessoas de seu relacionamento, inclusive o juiz, que era homem de bem. O padre teve conhecimento dessa reunião, e na hora em que a mesma se realizava, invadiu a casa do funcionário da prefeitura, desrespeitou o próprio juiz, ordenou aos capangas que apagassem as luzes e que usassem a violência se as pessoas ali pre­sentes tentassem continuar com a reunião. Naquela noite Varjão teve que dormir na casa do juiz para não ser assassinado.
Era evidente que as pessoas de bem estavam ao lado da boa causa, porém ninguém abertamente queria enfrentar o sacerdote desordeiro, que tinha o apoio incondicional do prefeito, da polícia local e dos políticos do município.
Chegou o momento de realizar o batismo dos novos convertidos. Mas onde fazê-lo? Se o sacerdote soubesse onde ele se realizaria, mobilizaria os desordeiros para atacar os crentes indefesos, como já fizera antes, resultando desse ataque alguns feridos. Catarino Varjão foi falar com o diretor local do Departamento de Estradas de Rodagem e obteve permissão para realizar o batismo no açude sob controle federal, onde o sacerdote não podia intervir.
O batismo foi um acontecimento para o povo de Deus em Picos, que nesse dia viu 19 novos convertidos obedecerem à Palavra de Deus. O batismo foi ministrado pelo pastor Benjamim Ramos de Oliveira.
Um dos movimentos decisivos para o trabalho do Senhor e para a vida da família Varjão foi quando os inimigos, desesperados por >
não poderem vencer pelas ameaças e pela fome os destemidos arautos da verdade, determinaram certa noite massacrar a família inteira. Toda a cidade se preparou, antecipadamente, para a repetição da noite de São Bartolomeu.Todos comentavam abertamente a embos­cada, e recomendavam que ninguém faltasse naquela noite.
O sinal para o ataque seria o apagar das luzes na cidade. Nesse momento todos atacariam, destruiriam a casa do irmão Varjão e ma­tariam quem lá estivesse. O padre estava certo de que dessa embos­cada os protestantes não escapariam. Não se envergonhava de estar mobilizando os homens de uma cidade para matar quatro pessoas cujo crime era anunciar a salvação e a graça de Deus.
À medida que se aproximava a data marcada para a matança dos protestantes, os irmãos mostraram-se muito aflitos. Insistiram com o irmão Varjão para que abandonasse a cidade, mas ele declarou que não tinha recebido a direção de Deus para abandonar seu posto. Morreria contente pela causa de Cristo. Na noite marcada para o ataque,Varjão reuniu a família para orar por aquela cidade. Enquanto oravam em voz alta, alguém bateu à porta. A família ficou alarmada, porém ainda havia luz na cidade, pois faltava uma hora para o mo­mento que anunciava a tragédia.
Abriram a porta. Eram três homens que traziam alimento, pois por influência do sacerdote carrasco, a família estava impossibilitada de comprá-lo. Os três homens então disseram que também estavam ali para os defender. Não precisavam temer coisa alguma. Eles já haviam traçado um plano. À hora em que as luzes da cidade se apagassem e a multidão avançasse, eles a enfrentariam e poriam em fuga aqueles covardes e vândalos.
Quando as luzes se apagaram, a multidão avançou, enfurecida, aos gritos de "mata, mata", mas quando se aproximaram da casa que iam atacar, foram recebidos pelo inesperado ataque dos três desconhe­cidos, que usavam bombas e morteiros. A multidão recuou amedrontada e fugiu desordenadamente. Ninguém mais se aproximou da casa.
Quando os inimigos já cantavam a vitória, Deus enviou livramento do céu, através daqueles homens. É sempre assim: Deus zomba de seus inimigos. Mais tarde soube-se que o Sr. Raimundo Duarte de Alencar, pessoa de grande prestígio na cidade, acompanhado de dois amigos, havia resolvido proteger a família Varjão. Certamente Deus - tocou os corações daqueles homens levando-os a sair em defesa dos seus santos.
Foram tantas e tão vis as perseguições contra os evangélicos em Picos, que esses acontecimentos chegaram ao conhecimento das autoridades na capital e da Assembléia Estadual. Um deputado evan­gélico, indignado com o que se passava em Picos, levantou a opinião pública da capital contra as perseguições e injustiças, e exigiu que o governo fizesse justiça e garantisse a liberdade de consciência e de culto. A reação foi tão forte e positiva, que aconteceu o que em Picos todos julgavam impossível: ordens expressas do governo de­terminaram a expulsão do mau sacerdote de Picos, expulsão que as autoridades enviadas executaram rapidamente, não lhe permitindo nem mesmo que se despedisse dos seus amigos.
Depois desses acontecimentos, os crentes passaram a usufruir de liberdade. Ninguém mais os incomodou. Porém, a grande surpresa para o povo da cidade foi a declaração do bispo de Oeiras quando visitou Picos. O ilustre prelado declarou que o povo daquela cidade cometera um crime quando perseguiu os evangélicos, e acrescentou: "Todos deviam prostrar seus rostos em terra, envergonhados, e pedir a Deus perdão por esse pecado". Picos foi, finalmente, liberta do fanatismo, e as portas se abriram ao Evangelho, para a glória de Deus.

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