terça-feira, 8 de março de 2011

A PRISÃO DE PAULO








Os últimos capítulos do livro de Atos (21 a 28) narram a prisão de Paulo e 
sua defesa diante de algumas autoridades. 
Quando Paulo chegou a Jerusalém, logo entrou em conflito com os judeus, 
embora tivesse feito todo o esforço para não entrar em controvérsias. 
Judeus da Ásia se infiltraram no meio dos judeus locais e, causando um 
tumulto de grandes proporções, causaram a prisão de Paulo pelas 
autoridades romanas. 
Na defesa que fez logo após ser preso, os judeus não apresentaram objeções 
quando Paulo mencionou a luz que o cegou (que, para o judeu, significaria a 
glória de Deus), nem a glorificação de Jesus, tampouco os conceitos de 
batismo e arrependimento. 
Foi somente quando Paulo mencionou que Deus o chamou para anunciar o 
evangelho aos gentios (Atos 22:21) que a multidão entrou em alvoroço 
(22:22). 
Os próximos capítulos de Atos apresentam duas defesas de Paulo diante de 
autoridades. 
Ele ficou em custódia por quatro anos e, no final desse período, temendo 
que não fosse ser liberto, apelou para César. Como  ele era cidadão 
romano, Festo viu-se obrigado a enviá-lo a Roma, uma vez que apelar a 
César era um direito de todo cidadão. 
A sua audiência diante de César demorou outros dois anos (28:30). O 
veredicto do julgamento não é informado, embora haja fortes evidências de 
que ele tenha sido liberto (II Timóteo 4:16-18). 
O período em que Paulo esteve preso de maneira alguma foi infrutífero. 
Em Jerusalém, era-lhe permitido manter contato com o mundo de fora (Atos 
23:16) e em Roma ele morou por sua própria conta e “ensinava a respeito do 
Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento algum.” (28:16,31). 
As epístolas que Paulo escreveu nesse período demonstram que o 
crescimento das igrejas não parou depois dele ter sido preso. 
Além disso, o valor teológico das cartas que ele escreveu na prisão é maior 
do que toda a sua correspondência até aquele momento (com exceção de 
Romanos). 
As cartas escritas por ele na prisão lidam com ensinamentos mais gerais e 
questões menos específicas e revelam uma igreja organizada, que estava 
amadurecendo rápido. 
Paulo escreveu quatro cartas enquanto estava preso: Filipenses, 
Colossenses, Efésios e Filemon. Todas foram escritas entre os anos de 57 e 
61 d.C. 
Paulo se refere, nessas quatro cartas, ao fato de ele estar preso (Filipenses 
1:12-13, Efésios 3:1, 4:1, 6:20, Colossenses 1:24, Filemon 1). 
FILEMON 
Onésimo, um escravo de Filemon, que era um homem de negócios de 
Colosso, havia fugido para Roma com bens do seu senhor. Lá, conheceu 
Paulo e foi convertido a Jesus (Filemon 10). 
Vendo a necessidade de corrigir o mal que Onésimo havia feito, Paulo o envia 
de volta a Filemon, pedindo que este receba o seu escravo e o perdoe. Nessa carta, são encontrados todos os elementos do perdão: a ofensa (v. 11, 
18), compaixão (v. 10), intercessão (19, 18-19), substituição (18-19) e um 
novo status no relacionamento (v. 15-16). 
Cada aspecto do perdão divino é duplicado no perdão que Paulo buscou 
para Onésimo. 
A carta pode ser considerada uma lição prática da oração “Perdoa as 
nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” 
EFÉSIOS 
Fundo 
Tradicionalmente, considera-se Efésios como uma carta circular, escrita a 
várias igrejas da província da Ásia, cuja cidade mais importante era Éfeso. 
Isso explicaria a ausência de cumprimentos pessoais de Paulo a uma 
igreja onde ele passou mais de três anos. 
A carta aos Efésios foi escrita e enviada simultaneamente com a carta a 
Filemon e a carta à igreja de Colosso, cujo mensageiro foi Tíquico (Efésios 
6:21, Colossenses 4:7-9). 
Efésios foi escrita após várias igrejas terem sido fundadas, o que propiciou a 
Paulo um entendimento maior do organismo que havia nascido. 
É a única carta do Novo Testamento onde a palavra “igreja” significa o 
conjunto de todos os irmãos do mundo e não uma congregação local. 
Conteúdo 
O tema da igreja permeia toda a carta aos Efésios, que não foi escrita para 
cristãos novos, mas para irmãos com certa maturidade, que desejavam 
crescer em conhecimento e vida. 
Alguns temas reaparecem constantemente nessa epístola: 
A soberania de Deus em estabelecer a igreja (1:4, 5, 9, 11, 13, 20, 2:4, 
6, 10, 3:11) marca a primeira parte da carta (capítulos 1 a 3). Nesse 
trecho, é explicado o plano divino de redenção do ser humano; 
No segundo trecho (capítulos 4 a 6), a conduta do cristão é enfatizada na 
expressão “vivam” (4:1, 17, 5:1, 8, 15), em contraste com a sua maneira 
antiga de viver (2:1); 
A esfera da atividade do cristão são as regiões celestiais (1:3, 10, 20, 
2:6, 3:10, 6:12); 
A dinâmica da vida da igreja é o Espírito Santo, que é o selo da promessa 
(1:13), o meio de acesso a Deus (2:18), a fonte de revelação da verdade 
de Deus (3:5), a fonte de poder (3:16), a liga de união (4:3-4), etc. 
A tabela a seguir divide a estrutura da carta: 
I. Introdução  1:1-2 
II. A constituição da igreja  1:3-14 
 Pelo Pai  1:3-6 
 No Filho  1:6-12 
 Por meio do Espírito  1:13-14 
III. Uma oração  1:15-23 
IV. A criação da igreja  2:1-10 
 Material: Filhos da perdição  
 Método: Pela graça 
 Propósito: Para boas obras  
V. A Harmonia da igreja  2:11-22 
VI. O chamado da igreja  3:1-21 
 Para revelar a sabedoria de Deus 3:1-13 
 Para experimentar a plenitude de Deus: uma oração  3:14-21 VII. A conduta da igreja  4:1-6:9 
 Seu ministério: união na diversidade 4:1-16 
 Seus padrões morais  4:17-5:14 
 Seu comportamento como um todo diante do mundo 5:15-21 
 Seus padrões internos  5:22-6:9 
VII. A guerra da igreja  6:10-20 
VII. Conclusão  6:21-24 
Pouco material teológico contido em Efésios não pode ser encontrado em 
outro livro da Bíblia. 
Sua beleza, no entanto, está em conseguir descrever a igreja como um 
organismo vivo, composto por judeus e gentios, possuindo armas e 
mecanismos próprios e engajado em uma batalha espiritual. 
Avaliação 
Vamos percorrer o livro de Efésios e fazer observações a respeito de alguns 
versículos: 
1:11 Deus é soberano na sua vontade. Ele coordena todas as coisas, 
todas as variáveis, todos os seres, todos os eventos, para que 
exatamente aquilo que é de acordo com o propósito da sua vontade 
aconteça. 
1:13-14 A vida de um cristão é diferente da de todos os outros. Podemos 
até encontrar pessoas com um caráter moral mais elevado do que alguns 
irmãos, no entanto não é isso  que determina a salvação das pessoas. O 
que determina se seremos salvos ou não é a presença do Espírito Santo 
na vida de uma pessoa, que é o depósito que Deus fez, garantindo a 
nossa redenção no julgamento, no nosso batismo. 
1:19-20 O poder que age em nós hoje é o mesmo poder que ressuscitou 
Jesus. 
1:22-23 A igreja representa a plenitude de Jesus, 100% de Jesus na 
terra! 
2:12 Nós nos lembramos de como vivíamos nossa vida  antes de 
conhecermos a Cristo? Sem esperança e sem Deus! Esse entendimento é 
essencial para que vivamos nossa vida com o poder do Espírito em nossas 
vidas, cheios de gratidão. Lembre-se que “aquele a  quem pouco foi 
perdoado, pouco ama.” (Lucas 7:47). 
2:19-20 Paulo está enfatizando que pertencer a Deus implica, 
necessariamente, que pertencemos à sua igreja, e que esta deve estar 
baseada nos fundamentos dos profetas (Velho Testamento) e dos 
apóstolos (Novo Testamento). 
3:8 Paulo revela, mais uma vez, o segredo para termos vidas cristãs 
amplamente produtivas: precisamos estar cheios de gratidão e apreciação 
pela nossa salvação. Deus quer que vivamos vidas produtivas (II Pedro 
1:5-9) e que demos muitos frutos (João 15:8). 
3:10 A sabedoria de Cristo é revelada hoje ao mundo por meio da igreja! 
3:16-17 A nossa oração deve ser para que Cristo nos encha de força no 
íntimo, para que sejamos cheios do verdadeiro poder, que opera no nosso 
interior e produz frutos no exterior. 
3:19 Se o amor de Cristo excede todo conhecimento,  como podemos 
conhecê-lo? Vivenciando-o, experimentando-o. Ninguém entenderá o 
amor de Cristo se buscá-lo apenas intelectualmente.
3:20 Deus faz mais do que pensamos ou pedimos. Esse é um grande 
encorajamento para que peçamos e sonhemos muito com a nossa vida e 
com a dos outros! 4:11-13 Deus deu dons de liderança a alguns irmãos com o propósito de 
preparar a sua igreja para o ministério, ou seja, para as boas obras. Os 
líderes não são superiores ou inferiores a ninguém, até porque há outros 
irmãos com dons que os líderes não possuem. No entanto, são 
absolutamente necessários e devem ter o apoio de todos para que 
possam fazer o seu trabalho (Hebreus 13:17). O alvo final é ajudar cada 
irmão a alcançar maturidade na sua vida cristã. 
4:14-16 Essa passagem mostra o resultado da submissão da igreja à sua 
liderança: não seremos mais enganados por qualquer  tipo de doutrina 
falsa e cresceremos em Cristo. Para isso, no entanto, cada um precisa 
fazer a sua parte (v.16). Uma idéia muito popular nos dias de hoje, 
porém nada espiritual, diz que os líderes da igreja precisam cuidar de 
todas as coisas na igreja. A Bíblia, no entanto, ensina o contrário. Cada 
um é chamado a ser discípulo de Jesus e carregar a  sua cruz, ou seja, 
cada um deve viver o seu próprio Cristianismo. O líder apenas direciona a 
igreja em uma dada direção e a equipa para que possa fazer boas obras 
(todos precisamos ser treinados a como fazer o bem – boas intenções não 
são o suficiente). 
4:17 Paulo insiste que não vivamos mais como gentios (como éramos 
antes). 
4:29 Só devemos falar aquilo que edifica e não deixar que palavras torpes 
(obscenas, nojentas) saiam da nossa boca. Isso não  significa que não 
possamos corrigir uns aos outros de maneira espiritual. Podemos e 
devemos, em conversas pessoais, ajudar uns aos outros (4:15). 
5:3 Não deve haver, entre os discípulos, nem menção de imoralidade 
sexual ou de qualquer tipo de impureza, simplesmente porque essas 
coisas não são próprias para os santos. 
5:11 Esse versículo certamente não está dizendo que devemos expor as 
obras dos não-cristãos; caso contrário, perderíamos todas as nossas 
amizades. No entanto, não devemos acobertar pecados de irmãos. 
Quando descobrimos pecados escondidos nas vidas uns dos outros, 
devemos, em amor, conversar com o irmão e, se necessário, com outros 
irmãos que possam intervir, seguindo o padrão de Mateus 18:15-17. 
6:10-19 Nós vivemos em uma batalha espiritual, que não pertence a esse 
mundo. Portanto, as armas que temos disponíveis também não são desse 
mundo, mas do mundo espiritual. São armas poderosas para derrubar 
fortalezas (II Coríntios 10:5-6).  
COLOSSENSES 
Fundo 
Colossenses e Efésios são cartas gêmeas: foram escritas no mesmo período 
e se parecem muito uma com a outra, embora tenham propósitos diferentes. 
Colossenses, ao contrário de Efésios, foi escrita diretamente à igreja de 
Colosso para lidar com doutrinas falsas que estavam surgindo naquela igreja. 
Os irmãos estavam sendo influenciados com ensinamentos místicos 
(adoração aos anjos – 2:18, etc.) e que privilegiavam o sofrimento corporal 
(abstinência de certas comidas e bebidas, observância de festas e dias 
cerimoniais – 2:16, 20-21, etc.). 
Judeus da província da Ásia provavelmente estavam envolvidos no 
ensinamento de tais doutrinas, uma vez que Paulo menciona 
cerimonialismos (2:11) e diz que tais coisas são a sombra de coisas que 
haveriam de vir (2:17). Ora, sabemos que a Lei e muitos dos exemplos 
do Velho Testamento são a sombra do que haveria de  acontecer no 
Cristianismo (Hebreus 8:5, 10:1, I Coríntios 10:1-6, etc.). Portanto, a descrição de Paulo desses ensinamentos falsos certamente bate com 
questões ligadas ao judaísmo. 
Paulo combate essas doutrinas falsas com uma apresentação extensa da 
pessoa de Cristo. A sua linha de argumento é apontar que todas as filosofias, 
poderes espirituais, observâncias religiosas e restrições são secundários à 
preeminência de Cristo. 
Cristo é apresentado como o cabeça da igreja, que comanda todo o corpo e a 
quem todo o corpo é submisso.  
Conteúdo
Excepcional na carta de Colossenses é a passagem de 1:14 a 22, que 
descreve Cristo. Ela é a continuação de uma oração que Paulo começou no 
versículo 9. Nela Cristo é descrito em termos que só poderiam ser aplicados 
ao próprio Deus, como resume o versículo 2:9: “Pois em Cristo habita 
corporalmente toda a plenitude da divindade.” 
Na criação, na redenção, na igreja e na vida pessoal Cristo deve ser o 
mais importante. 
O tema da redenção recebe destaque nessa carta. Redenção é o ato de 
redimir outra pessoa, ou seja, livrá-la, resgatá-la, libertá-la: 
Em Cristo temos o perdão dos pecados (1:14); 
Pelo sangue da sua cruz somos reconciliados a Deus (1:20, 22); 
As dívidas que tínhamos foram canceladas (2:14). 
Para combater as doutrinas falsas que apelavam para o misticismo, Paulo 
revela que, em Cristo, estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do 
conhecimento (2:13). 
A busca pelo conhecimento desse mundo é infrutífera: quando buscamos 
Cristo, é aí que obtemos o verdadeiro conhecimento, revelado por Deus. 
Paulo também chama os colossenses a se focalizarem nas coisas do alto, e 
não nas dessa terra: “Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não 
nas coisas terrenas.” (3:2). 
A seção prática dessa carta, concentrada nos capítulos 3 e 4, inicia com a 
conjunção “assim”, dando a entender que, quando obtemos um 
conhecimento correto da divindade de Cristo, produzimos todo tipo de boa 
obra em nossa vida. 
Para Paulo, um entendimento verdadeiro do evangelho produzia frutos 
éticos e morais na vida de uma pessoa. 
Segue, abaixo, uma estrutura da carta aos Colossenses: 
I. Cumprimentos  1:1-2 
II. Cristo preeminente nos relacionamentos pessoais 1:3-2:7 
III. Cristo preeminente na doutrina 2:8-3:4 
 Filosofia falsa versus Cristo 2:8-15 
 Adoração falsa versus Cristo 2:16-19 
 Asceticismo falso versus Cristo 2:20-3:4 
IV. Cristo preeminente na moral e na ética 3:5-4:6 
 Negativamente: “Façam morrer...” 3:5-11 
 Positivamente: “Revistam-se...” 3:12-17 
 Nas relações familiares 3:18-4:1 
 Geral  4:2-6 
V. Saudações pessoais  4:7-

Pr. João Neto

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