segunda-feira, 7 de março de 2011

CULTURA JUDAICA.









Calendário Litúrgico Anual

As principais festas judaicas estão associadas ao ciclo da natureza. As comemorações ligadas às primícias, às colheitas transformaram-se em datas de aniversário de acontecimentos da história de Israel.

Dias um e dois de Tishri (Setembro) festejam a criação do Homem, o começo do ano. Também chamado Dia do Julgamento, Deus abre três livros: um para os justos, outro para os iníquos, e outro para os que se desviam desta categorização. Tocam o shoffarconvidando os homens a lembrar-se do seu passado, a arrepender-se dos pecados, a penitenciar-se. Durante os festejos, consomem alimentos escolhidos pelo seu simbolismo: comem a cabeça de um animal para viverem o ano com a cabeça; o pão que habitualmente molha em sal, é mergulhada em mel, juntamente com um pedaço de maçã para que o ano novo seja doce. À tardinha, numa cerimónia chamada Tashlich (deitarás fora) deslocam-se a um local (rio, mar, ...) onde haja peixe e atiram-lhes migalhas de pão que representam os pecados.

É a celebração mais solene do calendário judaico. Comemora a dez de Setembro, marca o culminar dos dez dias de penitência iniciados em Rosh Hashaná. Os judeus adultos abstêm-se de comer durante vinte e quatro horas. consagram o tempo à oração , ao ascetismo, ao arrependimento. A liturgia começa com o Kol Nidré: rogam a Deus pelo incumprimento dos votos e promessas feitos durante o ano. Oram também pelos parentes falecidos, ouvem a leitura do Torá, do livro de Jonas. É o dia de reconciliação entre judeus. Devem perdoar-se os males e repará-los.




Ligada à antiga festa das colheitas, celebra-se durante oito dias, entre quinze e vinte e dois de Tishri (Setembro/Outubro). Lembra-te o tempo em que o povo de Israel errou pelo deserto, depois da saída do Egipto. É costume cada família construir uma cabana com ramos e flores, simbolizando a condição nómada do povo hebreu.

É a festa de exaltação da Lei revelada por Deus ao povo escolhido.  É celebrada a quando da leitura da última das 54 secções da Torá. Na Sinagoga há manifestações de alegria; os rolos do livro da Lei são retirados do Arón (armário sagrado) e transportados pelos fiéis em procissão, dando sete voltas em torno do recinto sagrado. Cantam e dançam. Os personagens principais da festa são o hatán Torá(noivo da Lei) e o hatán bereshit (noivo do Génesis), ou seja, os homens da comunidade a quem compete ler a última secção do Deuteronómio e a primeira secção do Génesis. São os noivos, porque afinal a Torá, a Lei, é a esposa do povo de Israel.




Tem lugar em Kislev (Novembro/Dezembro) e dura oito dias. Festa das luzes comemora a vitória dos irmãos Macabeus em 165 a.C., sobre Antíoco Epifanes, o governador grego que havia proibido a prática do judaísmo e pretendia helenizar os judeus. Os Macabeus quiseram re-inaugurar o templo judaico  e reacender a menorá (candelabro de sete braços); porém, tinham um só recipiente de óleokasher (puro). Milagrosamente o óleo que seria suficiente para vinte e quatro horas ardeu durante oito dias, o tempo necessário para o fabrico de óleo adequado. Desde então, em cada casa, vão-se acendendo oito luzes, uma a uma, em cada dia, nas hanukias, candelabros especiais que simbolizam milagre.


Tu Bishevat


Comemora-se aos quinze dias de Shevat (Janeiro/Fevereiro). Festa menor é conhecida como o ano novo das árvores. Depois do Inverno a natureza começa a ressurgir. E os judeus comem frutas, adornam a mesa com flores, entoam cânticos em louvor do renascer da natureza.



Dia catorze de Adar (Fevereiro/Março) tem lugar a celebração de Purim. Lembram a história narrada no livro bíblico de Ester, jovem judia, que ocultou a sua identidade religiosa e encantou o rei persa Assuero. O tio, Mardoqueu, desencadeia a ira de Amã, conselheiro do rei, porque se recusa a prostrar-se à sua passagem.


Entre quinze e vinte e dois de Nissan (Março/Abril), os judeus comemoram a saída do Egipto, liderados por Moisés. Festa do cordeiro, dos ázimos, da Primavera é uma das festividades mais relevantes do judaísmo. É o tempo do reafirmar da consciência judaica. A casa é purificada; todos os utensílios usados para a alimentação são escaldados ou lavados em água corrente. Há famílias que possuem recipientes para usar exclusivamente durante esta festividade. Anualmente é lido o relato da saída do Egipto e o elemento mais novo deve perguntar ao chefe da família: Em que se distingue esta noite? A refeição ritual do Seder  permitirá a explicação. Na mesa  deverá haver lugar para o profeta Elias (cadeira e cálice), vêem-se três Masot (pães sem fermento) relembrando a partida precipitada dos judeus e simbolizando a busca do povo pela liberdade; Um osso de cordeiro representando o sacrifício no Templo; um ovo cozido, mergulhado em água salgada simbolizando o nascimento e a morte, a fugacidade da vida terrena, as lágrimas e os sofrimentos dos judeus; o Maror, ou ervas amargas lembrando a amargura que os antepassados sofreram no Egipto e que todos os escravizados sentem; Harroset, uma pasta feita de frutos secos, figos, tâmaras, canela e mel representando a argila com que os judeus efectuavam as obras do faraó. Ao lado, um recipiente com água salgada e vinagre, no qual se molham as ervas amargas e se recorda a travessia do mar Vermelho, na fuga para a terra prometida. No decorrer da cerimónia, bebem quatro copos de vinho especial e recitam a Hagadá, o relato da saída do Egipto. A Páscoa é, também, o período mais fortemente marcado pela luta de separação entre as fés judaica e cristã. É tempo de definição de linhagens de religiões que se dividiram a partir de uma crença essencial: para os cristãos o Messias é Jesus Cristo, que realizou a sua missão; os judeus continuam a sua espera messiânica pelo reino de Deus, de Paz e de Amor.

Shavuot - Festa das colheitas

Celebra-se a seis e sete do mês de Sivan (Maio/Junho), sete semanas depois da Páscoa. Festa de colheitas tem um sentido agrícola e comemora a entrega das Tábuas da Lei a Moisés no Monte Sinai. Festa de agradecimento pela benesse das colheitas, na Sinagoga é lido o livro de Rute cujo cenário é a faina agrícola. Entoam cânticos de louvor a Deus por haver outorgado a Lei a Israel.


É o dia mais triste da História Judaica. Data de luto por excelência, situa-se a nove do mês de Av (Julho/Agosto). Um jejum rigoroso lembra os acontecimentos infelizes que ocorreram, nesse dia, em várias épocas. Os hebreus fugidos do Egipto ouvem a proibição de entrar na Terra Prometida; o primeiro e o segundo Templos são destruídos ocasionando a Diáspora; a cidade de Béthar foi tomada pelos romanos em 135. Associaram, por isso, a esta data todas as desgraças que aconteceram ao povo judaico - Inquisição, Perseguições, Nazismo -, bem como a cada judeu. O livro de Lamentações de Jeremias, o livro de Job e os relatos sobre a destruição do Templo são as leituras do dia.


Cerimónias religiosas assinalam as idades da pessoa. Na verdade, "... as fases fisiológicas da vida humana e, acima de tudo as crises e a morte, constituem o núcleo de inúmeros ritos e crenças". É assim com o nascimento, a adolescência, o casamento e a morte.


É um dos preceitos fundamentais do judaísmo. É o mohel (circuncidador) que procede à remoção do prepúcio. Durante a cerimónia, a criança é colocada na cadeira de Elias, o profeta, cuja presença os crentes invocam. O pai, o padrinho (sandak) que segura a criança durante a operação, a mãe, familiares, participam nesta festa que inclui um banquete. Durante a cerimónia é atribuído um nome ao filho.  

Bar Mishvá - Filho do Preceito

Ao atingirem a maioridade religiosa, os treze anos, os jovens devem cumprir todos os preceitos, participar nas cerimónias e integrar ominiám (quórum de dez homens necessários à celebração religiosa). É altura de festa para familiares e amigos. Nesse dia o jovem é chamado para ler a Torá. A bath mishvá (filha do preceito), a cerimónia correspondente para as jovens, não é festejada nas comunidades ortodoxas. Porém aos doze anos a mulher é obrigada a cumprir os mandamentos que lhe estão destinados.


Celebra-se na Sinagoga. Debaixo da hupa (pálio nupcial), que quatro jovens solteiros seguram, colocam-se os noivos. O rabi benze um copo de vinho e dá a beber aos noivos: utilizam o mesmo copo como símbolo da partilha a que se comprometem. Depois o noivo coloca um anel de oiro na mão da noiva, garantia de que irão conviver seguindo a Lei de Moisés. Segue-se a leitura da Ketubá, contrato matrimonial, que especifica as obrigações dos noivos e o dote da noiva. As sete bênçãos são, então, recitadas e, no fim, o noivo parte um copo com o pé, recordando a dolorosa destruição do Templo de Jerusalém. Seguem-se cânticos e música em redor dos noivos até que a alegria e a felicidade transpareçam no rosto de ambos. A festa continua com uma boda oferecida aos convidados.




As comunidades judaicas, quando morre uma pessoa, realizam um ciclo de complexas cerimónias, durante um ano. A purificação inicia-se com a lavagem do corpo e o do homem deve ser envolvido num tallit, xaile de oração,  ao qual se cortou um canto. A sepultura é unipessoal e contém, habitualmente, um pouco de terra de Sião. Feita a inumação do corpo é lida a oração fúnebre - Kadish. Os parentes próximos devem abster-se do consumo de carne e vinho durante sete dias; também não trabalham. Um sinal de luto é usado pelos parentes: um pedaço de pano preto rasgado em cima de uma peça de vestuário. A memória do defunto deve ser honrada com a distribuição de esmolas e orações. Nos trinta dias que se seguem ao falecimento, os familiares não participam em actos festivos. É ainda costume aquando da visita do túmulo, colocarem uma pedra na sepultura.


Pr. João Neto

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