domingo, 6 de março de 2011

A GLÓRIA DE VOLTA PARA CASA




Uma das palavras hebraicas usadas para designar a Glória de Deus é “icabô”. Foi o termo usado pela mulher de Finéias quando os filisteus levaram a Arca do Concerto para Asdode (I Sm 4:22, 5:1). O vocábulo icabô significa onde está a Glória? E vem do hebraico “chabod”, que quer dizer maior ou mais intenso que o normal; aquilo que é substancial ou pesado; glória densa ou glória pesada. A raiz da palavra é “chabad”, ser pesado, glorioso, notável (perceptível, notório). 

A palavra que designava a Glória ou a Presença manifesta do Deus de Israel, embora não ocorra no texto bíblico, é “shekinah”, da raiz hebraica “shkn”, habitando. O termo é usado pelos targumitas e rabinos, e adotado pelos cristãos referindo-se à “Glória visível de Deus habitando no meio do Seu povo”. A Glória que se manifestou na consagração do Templo de Salomão era tanto pesada; densa, como manifesta.



O motivo pelo qual a Glória de Deus ter se manifestado foi, nada mais, nada menos, que uma resposta divina à adoração oferecida; entretanto, Deus não responde/aceita a adoração de qualquer tipo de adorador. Deus não atende a uma adoração litúrgica, religiosa, mas verdadeira. Podemos aprender algo a respeito do caráter do adorador verdadeiro com os serafins, no capítulo 6, nos versículos 2, 6 e 7 do livro do profeta Isaías.

APRENDENDO A ADORAR COM OS SERAFINS

O termo “seraph” significa um ser angelical, voador, de fogo; também uma criatura do deserto cor de fogo, ágil e voadora, provavelmente, segundo Strong, uma serpente voadora. A raiz do verbo seraph é por fogo, queimar, dessa maneira, os serafins são adoradores que ardem em fogo; aqueles que queimam.

a) A santidade dos adoradores; vs. 6, 7: Nestes versículos os serafins se revelam ministros de santidade na vida do profeta, e como adoradores verdadeiros, proclamam a santidade do Senhor em santidade, o que constitui a primeira condição para Deus responder ao adorador. Deus não aceita adoração suja, o sacrifício tem que ser perfeito; santo. O adorador santificado atraia a presença de Deus com a sua adoração. Há um altar em nossos lábios (Hb 13:15) e fomos constituídos por Deus como sacerdócio santo a fim de oferecermos a Deus sacrifícios espirituais agradáveis por Jesus Cristo (I Pe 2:5). Sacrifícios espirituais agradáveis começam com santidade.

b) A reverência dos adoradores; vs. 2: A atitude dos serafins em cobrir o rosto com duas de suas asas, demonstra reverência pela Glória de Deus, em outras palavras, sabiam a quem estavam adorando. Quando Jesus palestrou com a mulher samaritana, disse: “vós adorais o que não sabeis (Jo 4:22)”, uma denúncia ao falso adorador (4:23, 24). Adorar a Deus sem reverência, revela falta de conhecimento daquele que adora. 

Quantas pessoas desprezam o que chamamos de “período de louvor” e ficam doidos que se acabe logo com a cantoria. Mas a “cantoria” não é para Ele? Se estamos cantando para Ele, por que tanta pressa? Ou estamos só cumprindo um ritual morto sem adorá-lO de fato? Se faz necessário dizer que no momento em que “adoramos”, fazemos promessas e juras de amor a Deus que jamais serão cumpridas. SE ADORA O QUE NÃO SE SABE! A pergunta é: Adoramos como os serafins ou como os samaritanos?

A PROCURA

Deus está procurando adoradores assim: santos e reverentes. Adoradores que não o adorem religiosamente como alguns crentes do passado, a ponto de Deus se queixar através do mesmo Isaías em 29:13 dizendo: “Pois que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração – seu interesse pessoal – se afasta para longe de mim …”.

A DENÚNCIA

Os cultos na igreja que foi gerada pelo avivamento no dia de Pentecostes, 10 dias após a ascensão de Jesus, eram espontâneos, mas depois da fusão da Igreja com o Estado em 313 a. D., os cultos passaram a ser ritualísticos; engessados. Muitos cultos hoje são assim por causa da herança romana dentro da Igreja de Cristo. Deus precisa se contentar com três cânticos em 20 ou 30 minutos. 

O Senhor deve suspirar de saudades quando os verdadeiros adoradores se reuniam no Tabernáculo de Davi, em Jerusalém, em volta de Arca onde a adoração era contínua; 24 horas por dia durante, mais ou menos, 36 anos, ou ainda quando os primitivos adoradores O adoravam em espírito e em verdade com uma adoração tão intensa que modificava a atmosfera do lugar onde se encontravam. 

Uma adoração que atraía a Presença de Deus, como a que foi ministrada na consagração do templo de Salomão, onde os sacerdotes não puderam ficar em pé por causa da Presença de Deus, de tão manifesta e densa que era.Quando a Igreja de Cristo romper com a tradição romana (e humana), o avivamento profetizado por Joel em 2:28 vai se cumprir, os milagres voltarão a acontecer e a Glória de Deus voltará a se manifestar.

A GLÓRIA SE FOI

Ao ler o livro do profeta Ezequiel, a Glória de Deus se afasta por causa de um ídolo que o próprio povo de Deus havia erguido no átrio, perto do altar onde se oferecia holocausto ao Senhor (8:3, 5). Os crentes do antigo testamento pintaram na parede do templo imagens que eram usadas em cultos egípcios (8:10). Interessante que eram os líderes que profanavam o lugar: “…70 anciãos da casa de Israel… (8: 11)”. 

As mulheres adoravam, não mais o Deus de Israel, mas Tamuz, um pastor de ovelhas da Suméria que casou com a deusa Istar. Quando ele morreu, a fertilidade da terra cessou. As mulheres choravam a ele pois se tornara a divindade da vegetação, trazendo prosperidade no verão, quando ressucitava, vindo a falecer novamente no inverno quando a vegetação desaparecia. Puseram sua confiança em um deus que não podia salvar em vez de confiarem no Senhor; Javéh-Jirê (8:14). 

Os adoradores passaram a adorar o Sol (8:16). Israel cheirava o ramo de cedro, símbolo de imortalidade associado com o culto a Tamuz, a fim de inalar as supostas forças que dão vida a Tamuz ressucitado (8:17).A Glória se afasta no capítulo 10:18 do templo de Salomão e só volta no capítulo 43:4 no novo templo profetizado por Ezequiel. Ela só volta porque um lugar foi preparado para o assento da Glória de Deus (43:7). Os capítulos entre 10:18 e 43:4 são proféticos para Israel. 

Eles vivem exatamente este período “entre os capítulos”, pois a restauração do templo de Ezequiel não se refere ao templo de Zorobabel nem ao de Herodes, este só será restaurado por ocasião do aparecimento do anti-cristo, ou seja, na 1ª metade da 70ª semana de Daniel. A Igreja, porém, não está vivendo esse período profético. O Espírito Santo foi derramado no Pentecoste e não foi retirado do seu lugar, nós é que nos retiramos. Não precisamos viver em uma seca espiritual, pois desde o Pentecoste a Fonte está jorrando, nós é que não estamos indo até ela, e se estamos indo, de que maneira estamos indo? Existem duas maneiras de se ir à Fonte:

a) Uma é “naturalmente”, ou seja, nos achegamos diante de um Deus ilimitado com uma mente limitada. Deus será tão grande como de fato o é, ou será tão pequeno o quanto eu o obrigar a ser.

b) A outra é “sobrenaturalmente”. É chegar diante dele sabendo que Ele é poderoso para fazer muito mais além daquilo que pedimos ou pensamos. Ele é maior e mais profundo do que eu aprendi na escola dominical, na igreja, no seminário, em qualquer outro lugar; Ele é Deus e não está limitado em uma mente que O aceita como a Escritura O revela: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, porque, assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos, e os meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos (Is 55:8, 9)”.

IDOLATRIA “CRISTÔ MODERNA

Em suma, a Glória se afastou do templo por causa da idolatria. O termo “idólatra” parece ser muito pesado para se aplicar a um crente, quando se tem em mente a idolatria escancarada cometida no capítulo 8 de Ezequiel, mas, a idolatria praticada hoje nos círculos cristãos é camuflada sob atitudes que parecem revelar santidade, compromisso e temor a Deus. Pessoas adoramcargos, títulos, templos, denominações, oportunidades, reuniões, compromissos, escala no domingo, e, por último, ao próprio ventre; é a religião do Egoísmo, o culto ao deus Ego. A idolatria moderna não é identificada pela AÇÃO, mas pela INTENÇÃO (por que faço o que faço?). 

Se a motivação não é a glória de Deus, é a glória do homem.A intenção é revelatória. Ela denuncia quem de fato somos. Por causa de uma intenção divorciada da vontade de Deus, estabelecemos dentro de nós mesmos um altar, cujo sacrifício oferecido sobre ele é para nossa própria satisfação. Quando esse altar é erigido, a Glória de Deus se aparta, porque um outro trono foi estabelecido; o trono do Ego. Podemos até continuar cantando bem, mas a Glória foi embora. Podemos até continuar dirigindo nossas igrejas, mas será apenas uma função administrativa pois a voz do Espírito Santo não é mais ouvida (a propósito, paramos pelo menos dez minutos por dia, em silêncio, para ouvir o Espírito Santo? ). 

As pregações são técnicas, persuasivas, em vez de “demonstração de Espírito e poder (I Co 2:4)”. Agindo desta forma, nos assemelhamos a Sansão que, levantando-se para pelejar contra os filisteus após ter revelado o segredo de Deus a Dalila, foi abandonado pela Glória de Deus e, sem perceber que a Glória se tinha retirado dele, teve seus dois olhos vazados pelo inimigo. Como ele, pensamos que temos, mas não temos; pensamos que somos, mas não somos.

CONCLUSÃO

Deus não habita em templos feitos por mãos de homens (At 7:48-50); nós somos o templo do Deus vivente (I Co 3:16; II 6:16,17). Não é possível ser cristão na própria força, não é possível viver o evangelho sem a Glória de Deus. Se assim não for, estaremos vivendo um evangelho natural controlado pelo homem e não o evangelho de Cristo. Que tipo de evangelho estamos vivendo? o evangelho de Cristo ou um evangelho denominacional? A Glória de Deus ainda se encontra no Seu templo ou se foi como no templo de Salomão? E se Ela está no templo, por que não se manifesta? 

A Glória de Deus é pesada e não se assenta em qualquer lugar. A Glória de Deus se acomoda a um trono que é só dEle, sobre uma atmosfera de adoração intensa e apaixonada em santidade e reverência. Ser reverente, repito, é saber a quem se adora, o que o apóstolo Paulo chama de “culto racional (Rm 12:1, 2).

A Glória de Deus que voltar para casa, mas é preciso derrubar os ídolos, restaurar o altar e trazer de volta a Arca. Deus, não pode habitar em um templo onde existem dois altares. Não pode habitar em “casa cheia do deus Ego”. A Glória dEle precisa ocupar todos os espaços, o fogo dEle tem que arder completamente no adorador, até que nos tornemos “serafins”, ou seja, aqueles que adoram em meio às chamas. 

O avivamento profetizado por Joel em 2:28 no livro da sua profecia é precedido pelo arrependimento em 2:12 e 13, e isso revela que não há avivamento sem mudança, sem arrependimento; sem confissão. Então remova os ídolos, modifique suas intenções, restaure o altar, esvazie-se de si mesmo, traga a Arca e invoque a Deus, pois a Glória quer voltar para casa.

Pb. JOÃO NETO

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